Lucidez e muita história - Edcarlos



Talismã de 2005, Edcarlos na maioria das vezes foi bem sucedido por onde passou. Zagueiro bastante útil e de bom nível, jogou em diversos gigantes do Brasil. O atleta conversou conosco sobre sua trajetória no México e sobre a aventura de Falcão nos gramados, por exemplo. Já em relação ao Galo e a falta de título no ano, o jogador (que acertou sua saída do clube recentemente) foi categórico: faltou equilíbrio. Confira na íntegra:

1. Você esteve no São Paulo multicampeão de 2005, com aquele plantel bastante vitorioso. Como era o convívio daquele time? A boa fase do clube fez diferença na sua adaptação no profissional?

Eu subi em 2003, peguei uma fase do time meio complicada em reformulação. 2004 tínhamos um time que não tinha muita força para brigar por algo, porém, já na transição de 2004 para 2005 o time começou a ser mais coeso e conseguimos obter as conquistas desejadas, formamos um time forte tanto no físico como na qualidade. Contratações como a do Júnior (lateral), Amoroso, Luizão. A equipe foi ganhando corpo e conseguimos cumprir nossos objetivos da temporada.

2. Ainda falando de 2005, você esteve presente no time quando o São Paulo contratou o então astro do futsal, Falcão. A premissa era de que ele brilhasse muito nos gramados, porém, não foi o que aconteceu. Na sua visão de companheiro de time, o que faltou para que ele engrenasse no futebol de campo? O Emerson Leão realmente tinha algum tipo de birra com ele?

Acredito que se criou muita expectativa em cima do Falcão, todo mundo esperava um resultado muito imediato e o Leão entendia que ele precisava de um tempo maior de adaptação para o campo. Acho que ele fez isso pensando no grupo, e até mesmo no jogador, para não queimar ele.

Falcão era mais ou menos como um garoto que sobe da base e as pessoas muitas vezes questionam porque o jovem não entra, não joga. O treinador que está presente no dia a dia as vezes não vê um potencial imediato e prefere dar um tempo maior. Como teve muita pressão da mídia, não houve tempo necessário para ele, por isso ele não foi mais feliz no campo. Qualidade todos nós sabemos que ele tem, se esforçou bastante. Mas apareceu uma outra proposta vantajosa para ele voltar ao futsal e ele preferiu voltar, porém com certeza com mais um tempo ele se adaptaria e daria muito resultado.
Faltou tempo para adaptação.
3.O Rogério Ceni foi anunciado recentemente como o treinador do SPFC para o ano que vem. Você esteve com ele durante certo tempo, na sua visão qual o perfil tático mais se assemelharia ao ex-goleiro?

Todos nós sempre soubemos que mais cedo ou mais tarde ele iria assumir o São Paulo por ser um estudioso como é. Dentro de campo ele sempre nos orientou muito bem, é um cara que tem um conhecimento enorme de jogadores, de todas as divisões, acompanha muito o futebol nacional. Quanto ao papel tático eu acho que o Rogério vai priorizar o meio campo e a zaga, ter um meio organizado e uma zaga coesa para depois pensar no ataque. Acredito que será mais precavido, porém não vai optar pelo 3-5-2 que usávamos quando joguei lá, até porque hoje em dia o jogo exige que o treinador seja agressivo na hora de planejar sua equipe. Mas tenho certeza que ele montará um time forte.

4. Quando foi emprestado pelo Benfica ao Fluminense, você chegou logo após a saída de um dos pilares daquela equipe que viria a se destacar no mundo inteiro, o Thiago Silva. Acha que a pressão de substituir um cara como o Thiago pesou de alguma forma?

Quando eu cheguei no Fluminense, via sempre os torcedores ovacionando o Thiago Silva, amam ele. É uma excelente pessoa, um cara que não só dentro de campo mas também fora dele, é de muito boa índole, admiro e torço muito por ele. Porém acredito que sim, quando um ídolo sai, a torcida imediatamente cria aquela carência e tenta buscar um sucessor que faça a mesma coisa. Mas cada um tem uma característica e uma forma de jogar, dificilmente um clube vai conseguir encontrar um jogador que substitua um outro atleta da mesma forma, então acho que pesou sim, um pouco.

Só que não foi só isso, o nosso elenco não conseguiu êxito em 2008 (quando ainda havia o Thiago) nem em 2009. Foram dois anos difíceis para o Fluminense, mas foi uma equipe que eu adorei jogar e tenho um enorme respeito pelos torcedores e funcionários. Foi uma fase muito positiva para mim também.

5. Você passou pelo México, para joga no Cruz Azul, ficou uma temporada e depois saiu. Conte-nos sua experiência na liga MX, quais são as lembranças do México?

É, minha passagem no México foi bem rápida mesmo, mas foi bem bacana para mim, culminou com o nascimento da minha filha. Então, muito por isso, vai ficar marcado para sempre na minha vida essa época.
O zagueiro passou apenas um ano em terras mexicanas.

6. Infelizmente quando estava no Sport em 2012, o clube acabou caindo para a segunda divisão nacional, e você foi dispensado. Conte sobre como foi sua passagem no nordeste.

O Sport na verdade foi uma grata surpresa, eu por ser nordestino sempre tive a intenção de jogar aqui. No Sport, Bahia ou Vitória, por ter saído daqui bem juvenil e não ter tido a oportunidade de sentir o calor da torcida nordestina. E bem, eu não fui dispensado. Tive uma tendinite no meio do campeonato brasileiro e levei um bom tempo para me recuperar, terminei o ano no Sport e logo depois fui para a Coréia.

7. O Cuca tentou segurar você no Fluminense quando acabou se transferindo para o México, coincidentemente, ele foi o técnico que te trouxe de volta ao Brasil para atuar no Cruzeiro. Qual é a sua relação com o Cuca? Qual a importância dele no seu jogo?

O Cuca realmente tentou fazer com que eu ficasse no Fluminense, já havia trabalhado com ele no São Paulo. É um cara que confia muito em mim, mas eu tinha um contrato com o Benfica então infelizmente por força maior, naquela época eu também já estava negociando com o Cruz Azul que profissionalmente me agregaria muito, então optei a ir para o México.

Logo depois o Cuca foi para o Cruzeiro e conversamos, ele estava precisando de um zagueiro e acabou pedindo a minha contratação. Veio em um momento bom pois minha filha havia nascido e minha esposa é mineira, então assinei com o Cruzeiro. Acabei sendo vice do brasileiro, campeão mineiro, foi muito bom poder voltar e trabalhar com o Cuca que tá aí hoje sendo o melhor treinador do país.

8. O Atlético Mineiro de 2016 é tido por muitos como o time com mais poderio ofensivo de todo o país, porém no Brasileirão, acabou não conseguindo acompanhar o já campeão Palmeiras até o fim. A que se deve falta de regularidade da equipe em manter-se na cola do líder na liga nacional?

Todos taxaram o nosso elenco como o melhor elenco do país, mas nós sabemos que não adianta só ter um elenco bom se não há uma estratégia boa, sólida, para que surta efeito. Um time pode fazer 30 gols por jogo, mas se não houver uma tática defensiva fica muito difícil. Ao longo do ano nosso time desandou a fazer gols, alguns muito bonitos. Mas para ser campeão brasileiro precisa de equilíbrio, coisa que não tivemos. Espero que possamos tirar essa temporada de lição, para que nos próximos anos a equipe possa estar mais equilibrada no ataque e na defesa, e quando falo de defesa não me refiro apenas aos zagueiros em si, mas sim no conceito geral de defender, hoje nós sabemos que todos precisam marcar e jogar. Tenho certeza que em 2017 o Roger dará a consistência que a equipe precisa.

9. Com esse tristíssimo caso da Chapecoense, foram propostas algumas medidas em proteção ao clube durante um tempo. O que você acha sobre a imunidade ao rebaixamento que está em discussão? Como a Chape deveria se reestruturar após perder quase todo o time?


Foi um acontecimento muito triste, quanto mais notícias saem da tragédia, mais triste ficamos. Acho mais do que justo a imunidade dada a Chapecoense, tem muito time aí que cai pra segunda, terceira divisão e demora muito tempo para se reestruturar, imagina em uma situação como essa. Tenho certeza que mesmo aos poucos, o clube vai se levantar e logo veremos a Chape competitiva novamente. É importante ser solidário com os familiares dos jogadores, comissão técnica, tripulantes e jornalistas, se preocupar um pouco mais com o lado humano e deixar um pouco o lado esportivo. No futebol as coisas acontecem e acabam se encaixando, as dores de entes queridos e familiares que devem ser levadas mais em conta.

10. Hoje em dia muito se discute sobre a função do camisa nove. Alguns defendem que o nove pivô tem de acabar, dando espaço a jogadores mais rápidos. É mais dificil marcar que tipo de jogador? O nove de força física que joga de costas para o gol, como o Fred, ou o de menor porte e maior velocidade?


Isso depende do esquema, cada esquema tem suas características de acordo com as peças que o formam. Se você tem um nove como Benzema, Fred e Pratto, como não usar um cara como esse? Acredito que todo treinador gosta de um camisa 9, quando não há esse tipo de jogador no elenco, ele é forçado a usar outro tipo de atleta. Se analisar bem o time que joga sem um atacante fixo é porque não dispõe de um jogador desse naipe no elenco. Mas sim, realmente é mais difícil marcar quando não há um 9 de ofício na área, porque eles voltam para buscar a bola, partem com ela dominada (não precisam fazer o giro do pivô) ou saem tabelando.
Fica difícil não utilizar um 9 como esse.

11. Foi um grande prazer para nós do 4-3-3. Use este espaço para fazer suas considerações finais, desejamos tudo de melhor! Grande abraço.

O prazer é todo meu, espero que tenha respondido bem a vocês. Estamos sempre a disposição, fiquem com Deus e um grande abraço a todos!
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