MODÃO CAIPIRA #46 - Demonstração de grandeza


A trajetória percorrida pelo Guarani nos últimos anos foi, e está sendo, muito árdua. Um time gigante, campeão brasileiro, com boa colocação em Libertadores e que passou a última década sofrendo muito, tanto dentro quanto fora de campo. Já falamos sobre isso, na longínqua segunda edição do Modão Caipira

Mas hoje o assunto é outro. A alegria que contagiou o lado verde de Campinas nas últimas semanas, e que se espalhou por todos os amantes do futebol, pela forma com que o Bugre conquistou sua vaga na final. Depois de 4 anos na Série C, o favoritismo se concretizou e o clube conseguiu o acesso para retornar para o segundo nível do futebol nacional.

Depois de três eliminações na primeira fase em sequência, neste ano a equipe campineira fez uma grandiosa campanha na fase inicial, classificando-se em primeiro do Grupo B. O técnico Marcelo Chamusca chegou ao clube ao término da Série A2 do Paulistão, com a missão de montar um elenco capaz de conquistar o tão sonhado acesso à Série B, e assim o fez.
Chamusca cumpriu sua missão e segue fazendo um bom trabalho.

Com alguns nomes conhecidos, como o zagueiro Leandro Amaro, o volante Lenon, o atacante Pipico e o interminável meia Fumagalli, de 39 anos, além de outras jovens promessas como os meias Wesley, Alex Santana e Renatinho, o treinador montou um elenco qualificado e que entrou para a história do Guarani Futebol Clube.

Numa primeira fase sem sustos, terminou três pontos a frente do segundo colocado de seu grupo, o Boa Esporte. Com um time-base bem definido, Chamusca mostrou que estava preparado para colocar o Bugre de novo na divisão de cima. Tendo a vantagem de decidir o mata-mata do acesso em casa, o adversário da batalha seria o ASA de Alagoas, e o time nordestino complicou as coisas, vencendo por 3x1 em Arapiraca.
O meio era o mais modificado, com oportunidades para Renato, Everton e Deivid, mas essa era a equipe na primeira fase.
A missão bugrina seria muito difícil, mas com o apoio da torcida, que colocou mais de 12 mil pessoas no Brinco de Ouro, conseguiu uma virada enorme, vencendo por 3x0 e carimbando o acesso. Eliandro, centroavante que foi contratado exclusivamente para a fase final, fez dois gols, e o zagueiro Leandro Amaro também deixou o dele, para a festa da torcida presente no estádio. O objetivo estava cumprido! O time estava entre os quatro melhores do campeonato, e a Série C já não assombraria mais, pelo menos por uma temporada. O dia 08 de outubro de 2016 ficará marcado na memória de torcedores de todas as gerações. Para os mais novos, como uma das principais conquistas que eles puderam acompanhar, para os mais antigos, como uma luz no fim do túnel.

A tendência de um time que conquista uma vaga suada dessa maneira seria relaxar e não se importar mais com o restante do campeonato? Essa foi a clara impressão que todos tiveram quando, no primeiro jogo das semifinais, o ABC-RN goleou o time de Marcelo Chamusca por 4x0 em Natal.

Porém, o que poucos poderiam imaginar, aconteceu.

Épica, magistral, histórica. Faltam adjetivos para descrever o que foi a noite do dia 23 de outubro de 2016. Pouco mais de 3 mil torcedores foram testemunhar de perto a partida de volta contra o ABC. Os deuses do futebol – parafraseando Mano Menezes – estavam no Brinco de Ouro da Princesa, e a camisa pesada do Guarani ficou mais pesada do que nunca naquele momento.
Com muita festa, o Bugre fez história (Imagem: Luciano Claudino)


Quando começou a partida, a atmosfera positiva tomou conta, e o Bugre partiu para cima. Com 25 minutos da primeira etapa, já vencia por 2x0, e a missão ia ficando mais fácil. Fumagalli deu assistência para o primeiro gol, marcado por Leandro Amaro, e fez o segundo, de falta. O meia, que joga desde 2012 na equipe campineira (além de uma primeira passagem entre 2000 e 2001), completou seu jogo de número 250 em Natal, e vestia uma camisa comemorativa no Brinco de Ouro da Princesa.

Ainda no primeiro tempo, Fumagalli bateu uma falta no travessão, e o atacante Jones Carioca, do ABC, foi expulso da partida. A esperança só aumentava, e o jogo foi para o intervalo com o placar que fora construído nos primeiros minutos. O clima já era favorável, e a crença no milagre, que até poucos minutos antes era inimaginável para muitos, era cada vez maior.

Logo no início da etapa final, Fumagalli marcou mais duas vezes, e a vantagem do time potiguar já não existia mais. Aos 3’, em jogada de Gilton pela esquerda, o veterano meia completou para o gol. Aos 9’, pelo outro lado Auremir chegou na linha de fundo e deixou a bola no pé de Fumagalli novamente. A felicidade da torcida alviverde de Campinas era contagiante, e naquela hora todos tinham certeza que a vaga era do Guarani, mesmo com o resultado ainda levando a partida para os pênaltis.
Ídolo, Fumagalli entrou ainda mais para a história do clube.

Era questão de tempo, e o quinto gol saiu aos 31, com um golaço de Alex Santana. Naquele momento, qualquer apaixonado por futebol que estivesse acompanhando a partida, mesmo que não tenha ligação nenhuma com o clube de Campinas, mesmo que não conhecesse nenhum jogador das equipes envolvidas, se emocionou junto com os jogadores e torcedores do Guarani. Para completar a festa e garantir a classificação, Pipico marcou de cabeça aos 34.

O Bugrão venceu, goleou o ABC por 6x0, e chegou a final da Série C. Para um time que já foi campeão brasileiro, talvez isso não fosse algo para ficar marcado na história. Mas por tudo o que vem ocorrendo com o time nos últimos tempos, correndo risco de ser despejado de seu próprio estádio, e da maneira como ocorreu, não há duvidas de que este dia ficará marcado para sempre na memória da torcida.

Muitos não acreditam na história de “camisas pesadas”, das superstições futebolísticas. Mas eu, como crente disso, posso afirmar que a mística esteve presente no Brinco de Ouro da Princesa, e ouso dizer que ninguém seria capaz de tirar a vaga do Guarani Futebol Clube. O futebol é excepcional.
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