O mais humano dos deuses



Nascido no meio do povo, em Lanús em uma província de Buenos Aires e sendo o quinto de oito filhos de um operário, o garoto de família pobre tinha no time do bairro conhecido como La Estrella Roja o espaço para fazer brotar o seu talento. Talento esse tão destacado que aos nove anos já despertava interesse do Argentinos Juniors, clube da capital modesto se comparado ao clube mais popular de sua cidade. Lá Maradona cresceu. Se não em tamanho visto que tem apenas 1,65 de altura, cresceu como jogador.

Ainda jovem, já indicava ser diferenciado
Sua habilidade descomunal para dribles, lançamentos e finalizações o fizeram um craque precoce. Artilheiro mais jovem da história do campeonato argentino com apenas 17 anos e melhor jogador de um mundial sub-20 com atuações inquestionáveis (marcando em 4 dos 5 jogos). Feito não menos importante ganhou o prêmio de melhor jogador sulamericano duas vezes na mesma categoria. Ganhou até seus 20 anos duas vezes o prêmio de melhor jogador do continente, superando craques como Zico e Falcão. El Pibe de Oro como ficou conhecido teve então em novembro de 1980 uma tarde das mais marcantes de sua carreira. Genialidade para marcar quatro gols diante do gigante Boca Juniors. Mas com uma sinceridade rara ao admitir emocionado após o jogo que ele e toda sua família eram torcedores do Boca.

Logo cedo encantou a todo um país
A declaração obviamente não passaria despercebida. Os diretores xeneizes pagaram então 2,5 milhões de dólares pelo futebol do garoto que encantava torcedores em Buenos Aires. Logo na primeira temporada nova artilharia com 28 gols em 40 jogos e título argentino garantido nas 40 partidas que atuou. Mais que isso, marcou em todos os clássicos que atuou, além de vitórias como grandes equipes da época como o Milan e o Flamengo de Zico. Mostrava desde ali toda sua veia para os grandes jogos.

No Boca, a afirmação
Novamente Maradona viria a ser então negociado, dessa vez por valor recorde ao Barcelona, um pouco antes da copa de 82. E na copa viria o primeiro grande revés da carreira. E logo em um clássico. Frente ao histórico Brasil daquele ano, Maradona vinha tendo grande atuação, mas foi expulso num lance sem importância, onde se notava um jogador emocionalmente abalado e acabou vendo sua seleção ser eliminada.


A chegada a Catalunha foi conturbada. O clube vivia certo ostracismo, num jejum de títulos que durava alguns anos. Logo no começo de sua passagem Diego sofre com uma hepatite. Para piorar a situação, pouco tempo após o retorno, quebra o tornozelo e fica mais longo período ausente. Mas na temporada seguinte obteve algum sucesso ao vencer a Copa do Rei e a Supercopa da Espanha. Na primeira chegou a ser aplaudido de pé pelos madridistas em pleno Santiago Bernabéu.

Infelizmente, nem tudo foi como esperava em Barcelona
Mas já em 84 nova lesão e uma suspensão após briga generalizada em um duelo contra o Athletic tiraram parte da credibilidade de Diego na Espanha, que insatisfeito com a falta de apoio da diretoria nos julgamentos do caso, aceitou oferta do Napoli da Itália em nova transação milionária. A chegada foi de um astro como Diego viria a ser na Itália. 60 mil pessoas no estádio San Paolo para ver Diego chegar de helicóptero no gramado.

Maradona enfrentaria grandes craques na liga Italiana
O então pequeno clube de pouquíssimos títulos mudaria ali toda sua história. Dois anos iniciais ainda sem taças, mas com um incômodo aos grandes que não se esperaria do clube nos anos anteriores. Serviria de preparação para o grande momento da carreira. Uma copa do mundo, a segunda chance da carreira. Mais que a redenção, uma consagração. Especialmente contra a Inglaterra, país que mexia com o orgulho ainda ferido do povo argentino após a derrota nas guerras das Malvinas. Frente ao goleiro Shilton, Diego marcaria... Com a mão. La Mano de Dios, uma violação a regra, o gol mais polêmico da história das copas se tornou icônico. Como se estivesse insatisfeito em entrar para a história assim Diego fez mais. Partindo da direita no meio campo arrancou. Como se não houvessem barreiras que pudessem pará-lo, Maradona driblou meio time inglês e só parou quando a bola morreu dentro das redes. Talvez o gol mais bonito da história das copas. Tudo no mesmo jogo, com toda tensão e simbolismo envolvidos no confronto. Mais dois gols na semifinal, e reservado ao papel de assistir ao último gol na final. A melhor atuação de um jogador na história das copas.

O gol contra a Inglaterra entrou para a história
como um dos mais belos da copa do mundo
Conquistaria no retorno à Itália o primeiro Scudetto da história dos napolitanos. Conquista de gigantesco destaque se observado que a liga italiana era à época talvez a melhor que o mundo já viu. Bater o Milan de Van Basten, Gullit, Baseri, Maldini e Rikjaard. Dois anos depois, com uma artilharia da liga nacional do período nova conquista marcante ao vencer a Copa UEFA. Em 90 o segundo Scudetto, mas uma das derrotas mais doloridas da carreira viria novamente. Uma Argentina que chegaria a final aos trancos e barrancos, cairia frente aos alemães.


A partir daí sua carreira iria do céu ao inferno. Envolvimento com a máfia italiana, tráfico de drogas, prostituição além das mais frequentes faltas aos treinos e fuga de concentrações. Em 91 seria pego no antidoping pelo uso de cocaína, preso em Buenos Aires também pelo porte da droga. Assumiu o vício e foi internado para desintoxicação. Terminada a suspensão, foi ao Sevilla em curta passagem onde novamente as ausências dos treinos se repetiriam. Despedido, a história se repetiria no Newel's onde o presidente do clube após sua passagem diria que não tinha condições psicológicas de seguir jogando. Acima do peso, Maradona inicia uma luta para se recuperar. Com a ajuda de um fisiculturista iniciaria luta para perder peso e ir a Copa de 94. Porém novamente Diego utilizaria-se dos métodos errados. Ao perder 13 KG, utilizaria efedrina, droga que além do efeito emagrecedor era um estimulante. Seria suspenso mais uma vez e retornaria em 95 ao clube de coração. Porém as drogas o atormentariam novamente e resultariam numa última suspensão. Desesperado declarou: "estou cansado e entregue". Ainda faria uma despedida em 2001, ovacionado pela torcida xeneize.

Maradona chegou a ser preso pelo porte de cocaína
Uma história de dramas, grandes vitórias, derrotas doloridas, polêmicas, emoções extravasadas, rendição as tentações que a vida desperta. Rebelde, com Che Guevara tatuado no braço,desafiou o posto de Rei de Pelé e gera dúvidas para aqueles que olham além dos números e das conquistas de cada um. Preferências a parte, Maradona é um ícone. Entrou para sempre na história do futebol, sendo lembrado pelos seus erros, mas especificamente pelo seu talento único. Parabéns El Pibe. Obrigado por tudo proporcionado para este esporte. Vida longa ao mais humano dos deuses do futebol.


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