Território inimigo?


Desde carregar o fardo de uma camisa histórica até absorver e utilizar em sua vantagem todos os xingamentos - e por que não todos os cânticos de apoio - presentes e onipresentes nos estádios (e em menor quantidade nas arenas), é um fato consumado que ser um jogador de futebol é um teste diário, árduo e algumas vezes até cruel para o psicológico da pessoa que ele é.

Muitos tentam mas sucumbem à pressão que é jogar para milhares de torcedores. E basta um errinho para que sua carreira profissional em um clube fique marcada para sempre na memória de milhões de pessoas, que acredite: não esquecerão. Espere até uma reação mais violenta dependendo de qual torcida estamos falando e da qualidade do jogador em questão.

Mais do que saber os fundamentos básicos como domínio de bola, passar, marcar bem, cobrar falta, é preciso ter a cabeça no lugar e não ceder aos gritos e berros durante 90 minutos. Isso não é uma tarefa fácil. E um dos fatores que mais torna a Taça Libertadores da América um torneio único é exatamente esse.
A festa da Libertadores é incomparável.
Os jogos válidos pela competição são únicos no fator torcida que gera, como consequência, o fator pressão. Um dos diálogos mais memoráveis da história desse torneio - e que são uma bela evidência do que estou tentando dizer - foi o que ocorreu entre o Júnior e Marquinhos, do Flamengo, durante o intervalo de uma partida contra o temido Boca Juniors pelas quartas-de-final da Libertadores 1991. O então jovem jogador comentou que era impossível jogar naquele estádio por conta da pressão. O Maestro, por sua vez, afirmou que "todo fim de semana o time joga para um Maracanã lotado" e que essa reclamação era uma bobagem. A resposta de Marquinhos foi simples e direta: "pois é, mas o chão do Maracanã não treme"...

E não quero dizer, ao utilizar esse argumento, que a relação Maracanã-Libertadores é inválida. O Fluminense provou a força desse estádio em 2008 despachando vários cachorrões até a final (onde se deparou com o preparadíssimo time equatoriano).

Não é qualquer um que consegue peitar uma La Guardia Imperial, uma La 12. Não quero dizer que é impossível, mas a transição de um jogador menino para um jogador adulto é feita em um momento desses. São certos testes que um time precisa passar para conquistar ESSE título, provar sua superioridade física, tática e mental.

O troféu mais cobiçado do continente motiva a promoção de festas que servem, em partes, para que o time visitante ligue o sinal de alerta: ele está em um território inimigo. Suas capacidades de movimentação e entrosamento, por mais que tenham sido treinadas táticas a nível europeu, poderão se fazer irrelevante perante à possibilidade lírica de uma verdadeira explosão do estádio.

As festas promovidas em finais são algumas das mais belas que esse lindo esporte pode nos oferecer. Não bastasse algumas restrições completamente desnecessárias que as torcidas tem lidado de uns tempos pra cá, surge agora a possibilidade de final em uma só partida.

Fica aqui o meu apelo para que a final da Libertadores não seja decidida em campo neutro. Para que esse torneio continue sendo único.
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