MEMÓRIA FC #19 - Celotex, um sonho botonista


É de conhecimento de todos que o futebol possui uma série de variáveis e formas diferentes de se jogar. Temos futsal, futebol de areia, futebol de 7, showbol, futebol de sabão, futebol de rua, gol a gol, futebol virtual etc...

Entre essas variáveis de se apreciar o que em suma, é futebol, está o futebol de botão.

A história do botonismo e a história do brasileiro Geraldo Cardoso Décourt se cruzam tanto que na essência de tudo acaba-se percebendo que nunca deixaram de ser uma só jornada. Paulista natural de Campinas tendo passado sua vida no Rio de Janeiro, Geraldo foi notável por ter sido um brilhante compositor, pintor e escritor. Mas entrou para o hall dos imortais após inventar o que conhecemos hoje como futebol de botão.
Geraldo e seu grande amor


O que hoje é tido até como um hobby mais fino por alguns, começou sendo praticado utilizando-se de botões provenientes de calças. O próprio colégio onde Geraldo estudou chegou a proibir a prática do jogo pelo fato dos alunos arrancarem os botões para jogar e acabarem por ter que ficar segurando as próprias calças durante algumas aulas. Por isso o nome futebol de botão, mas também é comum ouvimos futebol de mesa, ou futmesa.

Em 1928, já com 17 anos, Décourt enfim começa a entender que mesas especiais para a prática do jogo eram necessárias e começa a produzir os primeiros exemplares do utensílio. Influenciado pelo nome da companhia de madeira da qual comprou o material para a mesa, Geraldo passa a chamar o jogo de “Celotex”. Dois anos depois, o paulista lança o primeiro livro de regras para a prática. Regras essas que foram estritamente explicadas no jornal “A noite esportiva “ em uma reportagem bastante esmiuçada sobre o então Celotex. Obviamente, muitas normas descritas hoje em dia já foram abolidas, confira todo o artigo do jornal na íntegra abaixo:

“O Football Celotex é um esporte de mesa, no qual, em cada jogo, tomam parte dois amadores, que por sua vez representam dois teams formados por onze botões, assim distribuídos: um guardião, dois zagueiros, três médios e cinco dianteiros. Como se vê, o número de botões é idêntico ao número de players do Football Association. Para ser iniciado cada match é necessário que os vinte e dois botões estejam nas respectivas posições em mesa e, então, o desfavorecido pelo “toss” dará o “kick-off”, com o centro avante, o qual estenderá um passe para um dos lados, onde um outro botão do mesmo team impulsionará a bola, dando assim início ao jogo.

Como se vê, enquanto um segundo botão do team favorecido com a saída inicial não tocar na bola, não valerá goal. Procedida a saída, o outro amador, chamado de B, jogará com um de seus botões uma vez e assim, sucessivamente, um de cada vez até que seja registrada alguma falta. A única ocasião em que cada amador poderá jogar duas vezes seguidas é, pois, no momento da saída do centro. Depois de cada goal a bola deverá ser colocada no centro da mesa, e o team que tiver sido vazado dará a saída. No Football Celotex considera-se foul quando um botão do team A roçar noutro do team B, sem que antes tenha “tocado” na bola.


Considera-se hands (coisa raríssima) quando um botão do team A ficar sobre a bola. Neste caso, se for o guardião o infractor, proceder-se-á ordenando um “carring”, valendo goal direto. No foul e no hands valem goals directos, e se as respectivas penalidades forem consignadas dentro da área perigosa ordena-se um penalty. O “out-ball” é batido no lugar onde sair a bola, sendo que para ser valido um goal, procedente desta pena, é preciso que a bola toque em qualquer outro botão, antes de entrar na linha de goal. Nas saídas de goal ou, melhor, nos goal kicks, não será consignado o ponto proveniente da referida falta diretamente, mas sim depois que a bola tenha sido tocada propositalmente. Sempre que houver qualquer falta, os botões poderão ser removidos ou colocados pelas mãos dos patrões em lugares da mesa que este julguem convenientes. Os botões-guardiões só impulsionam a bola nos goal-kicks, e fora disso eles poderão ser colocados pelos patrões em qualquer momento da partida, mas antes que seja desferido o tiro a goal e não depois do tiro ser dado.

O tamanho oficial da mesa é de 1,20m de largura por 2,40m de comprimento. Essas medidas são de dentro do campo, sendo que a parte que ficar externando a marcação quanto maior for melhor será. As mesas devem ser feitas com um material americano feito das fibras do bagaço da cana-de-açúcar ou, então, de madeira coberta com um pano verde, próprio para cobrir mesas de jogo. “Aconselho estes dois exemplos pelo fato de ser necessário que a superfície não seja escorregadia.”

Posteriormente, regras foram mudadas e outras extintas.
Bem como novos documentos como o da foto, foram publicados.
Com um padrão de jogo estabelecido, restava divulgar e fazer com que as pessoas jogassem o futebol de botão ao redor do Brasil. Décourt começou a organizar torneios ao redor do país, que chegava a atrair uma quantidade bastante significativa de pessoas. Já em 1975, Geraldo funda o botonice, que tinha em seu corpo diretório homens que se tornaram amigos por conta do futebol de mesa, o propósito desse projeto era espalhar e disseminar ainda mais o esporte por aí, abaixo encontra-se uma parte da primeira edição do boletim informativo botonice, que saiu em 1980.
Artigo histórico
No meio disso tudo um homem se destacava entre os adeptos da prática, Antônio Della Torre foi com certeza, um dos pilares desse sonho de Geraldo, sem a sua ajuda e vontade dificilmente seria possível fazer o que fizeram. Della Torre inclusive foi o responsável pelo reconhecimento do futebol de mesa como esporte pelo na época, CND (Conselho Nacional de Desportes). O futmesa então passou a ser classificado pelo CND um esporte de salão, similar a xadrez e bilhar. A lei passou a entrar em vigor apenas em 1988.
Grande parceira
Infelizmente, 10 anos após o botão ser aceito como esporte, seu criador veio a falecer. Geraldo foi a óbito em maio de 1998, deixando um legado imenso e se imortalizando na história.

3 anos mais tarde, veio o reconhecimento um tanto tardio, era aprovada pelo então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que declarava por meio de uma lei que o dia 14 de fevereiro seria marcado como o dia do botonista, em homenagem ao dia que Décourt nasceu, a emenda dizia exatamente o seguinte:

“ Lei: 10.833. Institui o “Dia do Botonista” o Governador do Estado de São Paulo


Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:

Artigo 1º - Fica instituído o “Dia do Botonista”, a ser comemorado anualmente, no dia 14 de fevereiro.
Artigo 2º - Esta lei entra em vigor no dia de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 02 de julho de 2001”


Após uma bela história como essa, ainda preciso lhes dizer que há um hino do botonista, composto por Geraldo em seu auge no amor ao futmesa. Segue letra abaixo com o vídeo em anexo.

“Botonista eu sou com justo orgulho

Boto muita fé no meu botão

Botonista eu sou com muita honra Isto é verdade,

Eu não me arrependo não
Botonista eu sou com persistência

Jogo a qualquer hora com prazer

Pois jogando em qualquer regra!

Eu vou praticando o meu lazer - bis

Eu jogo limpo, jogo sério sem esbulho,

Pois prá mim adversário considero como irmão

Aviso logo para quem jogar comigo que somente

Me vencendo poderá ser campeão - bis “





Mais uma rica história da cultura futebolística brasileira!
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