Quando pensamos em algo que faz sucesso no Brasil, todos citam as novelas. Esse gênero dramatúrgico domina a televisão nacional desde a
sua criação, a ponto dos principais canais de TV aberta transmitirem ao menos
uma novela na sua programação. Nos tornamos exportadores desse produto, e todo
brasileiro assistiu, em algum momento de sua vida, pelo menos uma dessas
histórias na telinha. O enredo, de uma maneira geral, aborda os desdobramentos
de uma história de amor, onde, entre idas e vindas, os protagonistas terminam
com um belo final feliz.
E a relação entre a Seleção Brasileira e o torcedor tem tido
traços bem fortes de drama, bem como uma novela da vida real.
O torneio de futebol dos Jogos Olímpicos desse ano foi uma
amostra dessa união, que já andava bem desgastada pelas atuações nos últimos
anos. Nos primeiros jogos, um script típico de um relacionamento em crise:
Ambas as partes não tinham mais paciência com o outro, e a antipatia foi
tamanha que gerou vaias e críticas sem fim nas redes sociais de um lado, e
silêncio e cara amarrada do outro. Parecia que o encanto iria acabar de vez.
Nas quartas-de-final, o jogo contra a Colômbia serviu como
alerta: Para salvar esse casamento, ambas as partes teriam que se esforçar. E
de certa forma, toda a violência demonstrada em campo serviu para acordar
jogadores e torcida. O time cresceu, melhorou, e superando as dificuldades,
conseguiu o tão sonhado ouro. E a reviravolta estava feita. Vieram as
desculpas, voltaram as juras de amor. Novamente era possível sonhar com um
futuro bom.
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| Ouro e reconciliação. |
E Tite, que é o encarregado de recuperar esse carinho com o
time principal, soube utilizar a volta da empatia para melhorar os resultados
da Seleção. Esqueçamos por um tempo as preferências táticas e de elenco feitas por
Dunga: a Seleção não tinha a menor confiança nos tempos do ex-treinador.
Erravam tudo o que tentavam, isso quando tentavam. Nesse ritmo, fomos
acumulando resultados e atuações vexaminosas, que abalaram muito a relação com
o torcedor, que por sua vez se tornou mais frio e indiferente ao que deveria
ser o seu maior orgulho.
Adenor, que participou da montagem e da preparação do time
olímpico nos bastidores, conseguiu transferir toda a onda de otimismo gerado
para o seu time, a começar pela convocação de sete jogadores medalhistas de
ouro para os dois jogos das Eliminatórias, onde o Brasil estava com a corda no
pescoço. E os resultados foram notáveis. Vitória contra o Equador na temida
altitude de Quito, e outra vitória sobre a difícil Colômbia em Manaus.
Mais do que os resultados em si, o que se viu foi a antítese
de quase tudo observado na era Dunga. A Seleção demonstrou criatividade,
ousadia, equilíbrio emocional e organização tática. Soube unir a força e a
técnica, o sonho de todo o torcedor brasileiro. Claro, sempre terão os céticos,
que afirmam que é muito imediatismo empolgar de maneira tão instantânea por
apenas dois jogos. Mas, afinal, o que há de racional no amor?
O campeão voltou. O amor voltou. Agora, esperamos que,
finalmente, o final feliz aconteça na Rússia, em 2018.


