O Brasil que deu certo? [2.0]


Há algum tempo atrás eu escrevi aqui nesse digníssimo blog um texto intitulado “O Brasil que deu certo? ”. Nele eu discorria sobre o momento vivido pela mais alta entidade do futebol brasileiro, a CBF, que na época tinha em sua mais alta cúpula um escândalo que prometia abalar as estruturas dos chefões do futebol tupiniquim, com a prisão do então vice-presidente da confederação, José Maria Marin. O título foi uma alusão à uma fala do ex coordenador técnico da CBF, Carlos Alberto Parreira, que as vésperas da copa do mundo de 2014 e animado com a vitória da copa das confederações no ano anterior, havia afirmado que devido a sua impecável organização, a CBF poderia ser considerada “o Brasil que deu, que dá certo”. Encerrei aquele texto me permitindo discordar do comandante do quadrado mágico da copa de 2006 afirmando que na minha visão, “ a CBF é hoje a representação de tudo que não deu certo no Brasil”.

Pois bem, quase um ano após aquele escrito, volto a falar do assunto. Não apenas para reafirmar o que disse na ocasião, pois ainda possuo a mesmíssima opinião, mas também para aprofundar a analogia utilizada, adicionando a ela novas alegorias que ilustram mais claramente o porquê a Confederação Brasileira de Futebol pode ser considerada o retrato daquilo que desejamos que mude no nosso país.

Revendo a postagem do texto me deparei com um comentário de um leitor do Blog que pareceu concordar com minha conclusão. Nele o leitor afirmou dentre outras coisas que: “ A CBF é a Brasília do futebol!” Que capacidade de síntese! Essa frase por si só poderia resumir esse texto, contudo, me permitam elaborar mais esse pensamento.

Imaginemos uma empresa qualquer que possua um excelente caixa, muitos clientes dispostos a gastar com ela, um excelente mercado internacional, produtos que são reconhecidos por sua extrema qualidade e ainda assim possua dificuldades para continuar funcionando. Não precisa ser um grande analista para diagnosticar o problema não é mesmo? Temos em nossas mãos um claro problema de gestão. Voltemos a nossa pequena história e imaginemos que mesmo com todo o problema de gestão essa empresa conseguiu ser líder em seu ramo por algum tempo, todos que participavam dela tinham ciência de suas deficiências, mas ainda assim ficavam animados e pensavam que “se com todos os problemas ela funcionava daquele jeito, imaginem quando a gestão melhorar? Essa seria então a empresa do futuro!”.
Gestão lamentável: o grande problema da "Brasilia" que é a CBF.

Pois bem, o tempo foi passando e as outras empresas foram melhorando sua gestão, mas a “empresa do futuro” continuava no seu marasmo esperando um novo amanhecer que nunca chegava. Até que um dia os participantes da empresa do futuro perceberam que ela já não figurava mais entre as líderes. O caixa continuava alto, os clientes mesmo que em menor quantidade ainda compravam, o produto dera uma piorada, mas ainda tinham mercado lá fora, contudo, o seu funcionamento simplesmente pifara. E a agora o que fazer?

Bem, vários aspectos dessa história podem ser comparados ao nosso país e aos comandantes que governam a nossa nação. Nós, meros plebeus, seriamos os clientes que, na vida real, apesar de pouco dispostos, pagamos impostos e garantimos que o caixa do nosso país sempre fique recheado, o mercado é sempre o mercado e os produtos representariam as nossas riquezas. Falhamos então na gestão disso tudo e infelizmente não conseguimos evoluir da forma desejada. No nosso caso a população em geral costuma usar uma palavra para resumir a causa principal da nossa falha: “Brasília”, capital do país e local onde os nossos digníssimos representantes se reúnem para decidirem o “futuro” do nosso país.

Mas se refletirmos melhor, a história também se assemelha muito com uma certa CBF que conhecemos muito bem e com o atual momento de baixa do nosso futebol. Caixa não parece ser o problema dos comandantes do esporte no país, que só em 2015 declarou um lucro de R$ 72 milhões. Dinheiro esse que provém grande parte de campanhas publicitárias com grandes marcas e venda de produtos licenciados da seleção canarinha que mesmo em baixa esportivamente, ainda é uma bela de uma garota propaganda. Além das camisas podemos também considerar os jogadores como “produtos” dentro de nossa analogia e apesar de serem bem criticados por nossa exigente torcida, ainda são vendidos para fora por uma grana considerável e claramente possuem mercado. Logo, a conclusão lógica a que chegamos é que quem organiza toda essa bagunça é o real responsável pela estagnação atual do esporte bretão em terras brasileiras.

Pode até ser estranho a crítica surgir logo após a “única conquista que nos faltava”. Contudo, faço questão de faze-la exatamente nesse momento para que as Olimpíadas de hoje não se tornem a Copa das Confederações do passado e que os comandantes atuais não reconstruam o “escudo” que havia se partido com o fracasso da seleção junto com a prisão do José Maria Marin. Para que a CBF não seja vista novamente como o “Brasil que deu certo”.

“A CBF é a Brasília do futebol” bem disse o leitor. 
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