Neymar e Micale - Omissão e tiros no pé


É bem comum que erros aconteçam no futebol. Não estamos falando de erros táticos ou técnicos, embora eles aconteçam até com mais frequência, mas sim de algumas declarações. Por mais que tudo "se resolva" no vestiário, o que se fala na mídia tem grande peso no rumo que uma equipe pode tomar. Afinal, o torcedor não está nos bastidores, mas visita grandes portais de noticia todos os dias. Uma fala mal digerida pode se tornar um inimigo para qualquer trabalho. Ou seja, todo cuidado é pouco.

Apesar de tudo isso, alguns profissionais parecem ter o gosto de errar. Ou o fazem involuntariamente, mas estão lá, dia após dia dando tiros no próprio pé. Antes das Olimpíadas, Micale parecia o nome certo para a disputa. Não valia a pena que Tite assumisse a garotada dias antes do torneio se o bom treinador já estava ali, acostumado a trabalhar com a grande maioria dos atletas. Com tudo isso, o otimismo só crescia. O plantel foi bem convocado, na medida do possível, e com o mínimo de encaixe, passearíamos nos gramados olímpicos, sem dúvida. Mas tudo começou errado.

Antes mesmo da bola rolar o técnico deu seu primeiro disparo. "Eu quero depender de Neymar". Por mais figurativa que a frase tenha sido, com o intuito de dar moral ao craque, como você, que vem trabalhando na seleção de baixo há tempos, lidaria com esse tipo de declaração? Era claro que a possibilidade de um mal estar existia. Enfim, logo abafaram essa entrevista. Mas o desastre começou. Dois jogos. Nenhum gol. Nenhum padrão. Nada daquele bom time do mundial sub 20. Nada das interessantes ideias de Micale saindo da prancheta. Nada. (Confira nosso texto de ontem: Não temos nada)

Com tudo isso, a relação torcida-seleção só piora. E o pior, o mimo para cima de Neymar o coloca contra os torcedores também. Isso por que só vemos o que sai na mídia. O camisa 10 não dá declarações. Nem aqueles textos prontos saem de sua boca. Ele simplesmente se omite. O capitão da seleção não fala com ninguém. "Apanha" de todos os lados e fica quieto. Ao contrário do que costuma fazer em campo, quando depois de uma pancada, levanta e joga muito mais.

Não bastasse tudo isso, Micale resolveu novamente atirar contra o próprio pé. Como alguém que sente prazer pela dor e não tem medo de passar um vexame histórico, ele disse a todos os torcedores que "se não respeitar, logo não irá querer estar aqui". Sim. O treinador da seleção, num momento desse, dá essa declaração. Faz a torcida se sentir errada e aumenta ainda mais a sensação de que estamos em lados opostos. Abre ainda mais o abismo. Dificulta ainda mais a relação. E quem paga? Neymar.

O normal era ter um pensamento um pouco diferente. Não culpa-lo por algo que não sabemos de fato se vem acontecendo (a tal carta branca ao camisa 10). Mas como faremos isso se ele parece conivente? É omisso, fica quieto, não dá as caras e deixa Micale se autoflagelar com declarações, no minimo, lamentáveis.

A situação é complicada. Nosso treinador, acostumado com jovens, provou que não sabe lidar com uma estrela, e dia após dia só piora a já conturbada relação da torcida com seleção e com Neymar. A sensação de que o camisa 10 joga "de favor" pelo país irrita. E irrita muito.

A partida contra a Dinamarca pode marcar mais um vexame na história do nosso futebol e quem sabe o último tiro no pé de Micale. Resta saber se enfim ouviremos o que Neymar tem para dizer, ou se nosso craque vai seguir apanhando calado, como quem não se importa.
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