Afim de tornarem as viagens a trabalho menos cansativas, três jornalistas decidiram começar um canal no youtube, para falar única e exclusivamente do futebol europeu. O diferencial, no entanto, está no tipo de abordagem, já que ela acontece, de fato, perto dos clubes do velho continente. Por conta disso o slogan "futebol tipo importação". Temos por aqui a noção de que é lá que praticam o esporte bretão da melhor maneira e trazer isso para cá, de maneira mais próxima, é tudo que muita gente sempre quis para acompanhar. Batemos um papo muito bacana com Ulisses Neto, Felipe Rocha e Caio Correa, idealizadores do projeto. Na primeira parte dessa matéria falamos bastante sobre a parte profissional dos caras (confira), já agora, vamos abordar um pouco mais do futebol propriamente dito. Confere aí:
1. Como está o clima na Inglaterra para esta nova temporada? Novos treinadores, craques e o novo contrato estão visivelmente mexendo com todos por aí?
Caio: É muito fácil definir o clima na Inglaterra. Quando não está chovendo, está frio. Muitas vezes os dois cenários se fazem presente. Dentro de campo, nunca vivenciamos uma pré-temporada com tamanha expectativa. Antes do fenômeno Leicester, seis ou sete clubes lutavam pela parte de cima da tabela e outros cinco lutavam contra a degola. Agora serão os vinte lutando pela taça. Pegue essa motivação, adicione treinadores consagrados que voltaram a ter ''sangue nos olhos'' e uma conta bancária quase ilimitada para buscar reforços. Ta aí uma mistura que vai render muito. Todo mundo quer que a bola comece a rolar.
2. Acreditam que com a capacidade de investimento e a quantidade de grandes técnicos (Guardiola, Mourinho , Klopp, etc) que terá a liga, essa temporada será a mais disputada e que não terá a chance de termos uma nova surpresa como foi o Leicester?
Caio: Surpresas como o Leicester acontecem, mas dificilmente se repetem. Já tivemos em outros países, times pequenos que fizeram história. Quem não lembra da Sampdoria, Valencia, Villareal, São Caetano... No meu ponto de vista, podemos comparar esses casos com acidentes aéreos. Eles acontecem pouco, são resultado de diversos fatores e deixam marcas. Acho que na última temporada, o Leicester começou arrasador, chegou em Dezembro e conseguiu atravessar bem a época de festas de fim de ano. Quando os grandes acordaram, já era tarde. Acho que se o City não tivesse se perdido em problemas internos e o anúncio do Guardiola em fevereiro, poderia ser campeão. O Arsenal também perdeu pontos inexplicáveis em casa. Tio Ranieri e sua turma seguiram a risca um mandamento do meu avô, o velho Maneca: Se um dia, você tiver a chance de conquistar a moça mais bonita do baile, faça imediatamente. Amanhã ela não vai te querer. Infelizmente acho que o Leicester ganhou concorrência pesada nessa temporada e a bela moça em questão voltará para braços que deixaram saudade.
O Deu Liga acompanhou a chegada de um dos nomes que promete nessa temporada: José Mourinho.
Caio: Mourinho leva essa. Ele é uma raposa velha. Raul Seixas já cantava em Capim Guiné que raposa velha só vive na mardade. Depois de ser demitido (um dos maiores traumas da vida de um ser humano) ele quer mostrar que não perdeu terreno. Com Guardiola ainda se adaptando a vida sem o astro rei, Wenger se especializando em contratar atacante que não sabe finalizar, Conte tentando traduzir contropiede para counter-attack....Sem Champions para dividir a atenção, a Premier League será dos Red Devils.
Ulisses: É uma aposta arriscada e a chance de acabar passando vergonha é enorme. Mas vou de Arsenal. Não é possível que o Wenger vai terminar mais uma temporada como água de salsicha. O raio do Leicester não vai cair outra vez no mesmo lugar. Mourinho precisa de tempo pra deixar o time do seu jeito. Guardiola não está acostumado a comer fish and chips e depois de três temporadas na Bundesliga esqueceu como é ter que enfrentar um time mais forte que o dele dentro de casa. Então, acredito, o Arsenal está com a faca e o queijo na mão.
4. Outra bem pessoal que poderia ser respondida pelos três: quem seria a sua escolha para o cargo de manager do English Team? (Antes de anunciarem Allardyce, mas a pergunta ainda é válida, visto a enorme reprovação do técnico inglês).
Se a Inglaterra já tem treinador, o pessoal do Deu Liga dá dicas para a Bélgica, que ainda procura um comandante
Caio: Pellegrini seria uma opção interessante. Tá no mercado, conhece a aldeia e pode ensinar um pouco de humildade ao ''badalado'' time que não passa das oitavas. Perder para a Islândia é inaceitável para uma seleção como a Inglaterra. A geração é boa e pode render bem na Copa da Rússia. Depois do Hodgson, até mesmo o príncipe Willian conseguiria organizar melhor uma equipe de futebol. Assim a FA também economizaria uns pounds e o marido da Kate acumularia o cargo de presidente e treinador, algo que não é novidade nenhuma depois da jornada épica de Mauro Shampoo no Ibis. Dunga seria minha segunda opção. Ele seria mais importante aqui que como técnico do Brasil. Já disputou Copa e é sério. Pode dar liga.
Felipe: Look, Arsène Wenger. Apesar de ser o alvo favorito dos pragmáticos azedos, tipo o Caio e o Ulisses, o tio Wenger sabe muito das coisas. Principalmente, das coisas daqui da Inglaterra. Já que o English Team joga mal e perde, talvez seja a hora de tentar jogar bem. Ainda é o caminho mais inteligente para se vencer.
Ulisses: Um treinador de futebol sério não aceitaria essa bomba. O Brasil nunca será campeão de cricket. A Inglaterra nunca vai ganhar uma Copa fora do Wembley sem ajuda da arbitragem. Pra mim dá na mesma quem vai assumir a Seleção Inglesa. Não vai mudar nada. O ideal seria contratar o professor Harry Redknapp, também conhecido como o Joel Santana de Essex. Isso nos pouparia de ouví-lo falando abobrinha como comentarista da BT Sport. Infelizmente a Football Association, que como o Caio bem lembrou é presidida pelo garboso Duque de Cambridge, se acha posh demais para nomear um treinador da massa. Vão acabar indicando outro italiano mesmo, porque ao menos eles se vestem bem.
5. Conhecendo as duas realidades, se pudessem escolher uma coisa, o que levariam do futebol brasileiro para o inglês e vice versa?
Felipe: Daqui pra aí, a sensação de segurança que há nos estádios. Não é que seja totalmente seguro, lógico que não é. Mas, infelizmente, é incomparavelmente mais seguro que no Brasil. Daí pra cá, traria os vendedores de chicabon, as dancinhas das comemorações e a festa das torcidas.
6. Hoje, depois de conhecer essa liberdade que o youtube dá, vocês gostam mais de trabalhar para esse tipo de público ou ainda para a TV?
Felipe: Tanto YouTube quanto TV, ainda são novidades para mim. O Deu Liga nasceu há cerca de dois anos, e antes de estrear no Esporte Interativo, em agosto de 2015, eu nunca havia aparecido na telinha. Tenho me divertido muito em ambos, de verdade.
Ulisses: Eu acrescentaria que no YouTube fazemos o que a gente quer, como quer, na hora que queremos. Então só por isso a comparação já seria injusta. Mas lembrando que o council tax e o imposto da BBC são pagos com o dinheiro da TV, então também temos que ser simpáticos com os clientes da Maracanã hahahaha.
7. Apesar das dificuldades do ramo, vários são os jovens que entram na luta do jornalismo esportivo diariamente. Se no yotube não vemos muito material sendo produzido, é comum vermos blogs, sites e páginas que tratam do assunto. Qual a principal dica que vocês dariam para quem começa um projeto no meio?
Felipe: Caras, a gente realmente gosta muito do que faz. E isso já é o nosso ‘dar certo’. Em nosso caso, esse prazer tem sido fundamental para seguir com o projeto.

