Zlatanismo


Por um grande calvário existencial passa o antes imponente e eterno glorioso Manchester United. A infinitamente retratada crise de identidade vivida pelos Red Devils (que já já viram Red Angels pelo niilismo exacerbado que circunscrita sua aura) chegou ao ápice na chamada “era Van Gaal” (de filosofia Vangaalista-holandesa de posse de bola inútil e uso excessivo de goleiro), principalmente pelo aspecto de inerte sonolência de seu estilo de jogo, fator que levou indivíduos engajados na aventura futebolística a exaltarem a chatice do grande clube vermelho, chamando-o de “Boring United”.

Porém, após três anos de dor e sofrimento, com Moyesses, Van Gaals (que teve uma boa segunda metade de temporada, inclusive vencendo a FA Cup, justiça seja feita), Valencias, Fellainis e Varelas, eis que surge um vulto em Manchester. Um vulto alto. Um vulto imponente. Um vulto sueco. Um vulto narigudo e cabeludo. E junto com esse vulto, vem um modelo de produção. Mas nada de industrias: com esse vulto, vem a promessa da pedifatura fordista de títulos.

Chega a Manchester o “Zlatanismo”. Muito semelhante ao Persienismo, modelo utilizado pela equipe vermelha local durante os últimos suspiros da inigualável “era Ferguson”, quando o “Fergusonismo” (baseado em escalações absurdas e gols nos acréscimos) era a ideologia dominante, o modelo zlatânico é baseado no uso de um alto e habilidoso atacante visando à conquista de taças, copas e ligas. Além dele, o vitorioso Mourinismo, que se baseia na extrema capacidade de se adaptar a qualquer time adversário e no uso excessivo de ironia, promete restaurar a chama apagada pelo último perdigoto que escapou quando o lendário Sir Alex jogou o chiclete fora pela última vez.
A dupla filosofia que chega para dar esperança ao United.

Historicamente, aderir ao Zlatanismo é uma conduta de extrema eficiência na busca por vitórias. Desde 2001, a prática falhou em apenas dois anos, em 2003, no Ajax e em 2012, no Milan. No entanto, em ambos os casos, os times zlatânicos ficaram em segundo. Em quinze anos, treze ligas. É eficiência de dar inveja em qualquer livro de auto-ajuda que te ensina a resposta para questões da vida, do universo e tudo mais.

Grandes clubes como o Ajax, entre 2001 e 2004, a Juventus, entre 2004 e 2006, a Inter, entre 2006 e 2009, o Barcelona, entre 2009 e 2010, o Milan, entre 2010 e 2012 e o Paris Saint-Germain, entre 2012 e 2016, utilizaram o Zlatanismo como base de seu sucesso. Isso explica a ânsia do Manchester United em buscar o embaixador-mor da conduta, a personificação das divindades da bola, o supremo Zlatan Ibrahimović. Ibra é a esperança vermelha da glória cantada, algo que se esgueirou para fora das portas do clube quando os acréscimos em Old Trafford se tornaram nada mais do que alguns minutos.

Hora de ver a Inglaterra sentir de perto o Zlatanismo. Que deixou órfãos em Amsterdam, viúvos e viúvas em Milão e muitas saudades em Paris. Hora do lado vermelho de Manchester pulsar com o acrobatismo mágico e carismática falta de modéstia. É hora de Ibrahimović.

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