A obsessão por criticar, por fazer piadas e cobrar um ato decisivo de puro individualidade no esporte coletivo mais popular do mundo virou uma doença. Ao que me parece, Lionel Messi "pipocou" na final de ontem. O camisa 10 argentino buscou o jogo, deu as caras, seus grandes companheiros sumiram, outros jogaram no lixo as chances mais claras, Messi tentou, mas como não venceu sozinho, é o "pipoqueiro". O pênalti não tem defesa (no sentido literal e figurado), mas sabemos que essas críticas viriam com ou sem o intertexto ao Baggio. Vamos lembrar rapidamente da final do Cristiano Ronaldo pela última Uefa Champions League, onde ele se apresentou pro jogo, tentou muito, mas foi extremamente bem marcado pela fortíssima defesa colchonera, ainda assim foi campeão e, mesmo assim, taxado de pipoqueiro por alguns.
A febre pela palavra é doentia, e é incrível como sempre são inseridas sobretudo aos 2 melhores jogadores do século, como pode? Voltando a final da Champions League 15/16, coloquemos um paralelo: A final da Copa de 94, onde o Baixinho Romário fez uma partida discreta, e viu a seleção vencer nos pênaltis. O mesmo Romário que já havia contado com uma espetacular cobrança de falta do Branco para ali estar. O camisa 11 representa tudo que não seja a tal "pipoca" dos dias atuais, mas por qual motivo o Cristiano Ronaldo, na visão de muitos, pipocou na final da UCL? Retrospectos parecidos dos dois (Não entro no mérito da Copa, pelo menos na minha visão, ser mais importante, queria só fazer um paralelo). Um é capaz de fazer muitos acharem que ganhou a Copa sozinho, enquanto o outro é capaz de fazer muitos acharem que ele "pipocou".
Do mesmo exemplo do Romário, se pode desmistificar a estória de que craque ganha Copa sozinho. A frase mais repetida, de que falta uma Copa ao Messi, que faltou a Zico, que Pelé tem três, e que Romário e Maradona ganharam sozinhos. Amigão, futebol é um esporte coletivo, quem ganhou a Copa foi o Brasil, Argentina, não o Romário, nem o Maradona de forma solitária. A reta final de 94 mostra muito bem a relatividade do papel de um craque nos momentos decisivos, de como é difícil um jogador tão visado destruir com a partida, de como é importante ele não se esconder e mostrar atitude, e de como é necessário que apareçam os coadjuvantes e o TIME funcione. Pelé por exemplo teve muito mais facilidade pra decidir na sua primeira Copa em 58, antes de estourar, após isso, em 62 viu outros roubarem seu protagonismo nos momentos importantes, quando o mesmo teve problemas físicos, e em 70 teve um auxilio de um time fantástico no coletivo, e de individualidades múltiplas e geniais. O time BRASIL ganhou o bi e o tri, coroando também o Rei tricampeão mundial, com toda a justiça.
Futebol é feito também do imponderável, destes destinos que parecem traçados para a glória (como o do Rei na seleção), ou traçados para o fracasso (como o do Messi pela Argentina), mas isso não passa, na minha visão, pelo Pelé ter carregado o Brasil em 3 Copas e o Lionel ser incapaz disso, nenhuma das duas ideias é completa, nem perto disso, ao mesmo tempo que passa bem longe da intenção de negar a importância principal e preponderante de Edson nos Mundiais citados (sem ele, a taça de 70 não seria conquistada), e a falta de um Messi mais inspirado nas decisões da Argentina nos últimos anos (com ele, certamente as taças seriam conquistadas).
É irritante, pelo menos 5, 8 vezes por temporada ocorre uma febre de "pipoqueiro!" sobre os dois melhores do século. Eles podem fazer gols em todos os jogos, todas as fases, em todos os níveis, porém, no dia que não jogarem bem, que enfrentarem uma marcação perfeita, teremos a sensação de que havia um exercito esperando por isso.
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| Lutar e buscar o jogo não bastaram para Messi afastar o chato rótulo de "pipoqueiro". |
Ninguém decide tudo sempre, ninguém faz gol em todas as finais e jogos importantes, não foi assim com Pelé, não foi assim com Romário, nem foi assim com nenhum outro craque. Alguns usam a história para colocar a obrigação de ganhar um título por sua seleção sobre Cristiano e Messi, e fazem pretexto para separá-los do quilate mais alto de gênios do futebol mundial. O maior artilheiro da história da seleção portuguesa e o maior artilheiro da seleção argentina nada deram aos seus países, sobretudo o argentino, pois na final, o 9 perdeu o gol absurdo, muitos sumiram, ele tentou, e não conseguiu. Tudo pois sua obrigação de craque é fazer o gol sozinho, e se dar bem com a postura de seus companheiros de "dá no Messi que ele resolve".
Não, para mim, o Messi não pipocou. E poucas vezes vi grandes craques pipocarem. O papel é dar a cara, mas ganhar sozinho... jamais. Não à toa, como dizem os mais ignorantes que não compreendem a mais bela invenção do homem: São 22 homens correndo atrás de uma bola! Não um, por melhor que ele seja.


