No ano de 793, um povo que se utilizava ao máximo de elementos primitivos e naturais, vivendo em integração com os mesmos e uma força colossal, ataca a Inglaterra com brutalidade. Era o início dos ataques bárbaros que espalharam sangue por toda a Europa medieval. Até o ataque nórdico ao monastério de Lindsfarne, ninguém conhecia os Vikings, mas a partir deste saque, os boatos sobre um povo dotado de uma força bruta imensa se espalharam com a mesma velocidade que a brutalidade nórdica pelo continente.
Agora, mais de 1000 anos depois, o mundo mudou completamente. O povo viking não está mais entre nós, constantes descobertas foram feitas e aperfeiçoaram muita coisa, até chegarmos na atual idade moderna. Mas se o povo viking não realiza mais seus saques e navega pela Europa e pelo mundo através de tecnologias primitivas como o "barco dragão", o seu legado se encontra em camadas da sociedade, como o futebol.
![]() |
| O capitão da seleção. Impossível não lembrar dos vikings. |
Na Islândia, pequeno país com 330.000 habitantes, que foi colonizado pelos nórdicos no século IX, nasce uma história parecida com a dos vikings, desta vez não nos campos de batalha, mas sim nas quatro linhas que constituem um campo de futebol.
A história tem grandes coincidências, assim como os antigos guerreiros, os islandeses tem pouco material, mas utilizam ao máximo. Para se ter uma ideia, o número de montanhas vulcânicas do país (130) é maior que o de jogadores profissionais. 100 jogadores, sendo que nenhum dos 23 convocados atua na alternativa liga local.
Enquanto desconhecidos na Europa, os vikings desenvolviam sua civilização, até atacar a Europa no século IIX. O mesmo aconteceu com o esporte bretão.
O futebol islandês já foi muito mais atrasado mas após um grande planejamento se popularizou. Um maior número de pessoas começou a jogar, surgiram então jogadores. Após o notável crescimento a Islândia ficou a um gol de vir a Copa do Mundo de 2014, sendo eliminada nos playoffs pela Croácia, que ficou no mesmo grupo de nossa seleção.
![]() |
| A Islândia passou muito perto de vir a Copa, no Brasil. Derrota muito sofrida para a Croácia, que veio fazer parte do nosso grupo no torneio. |
Chegar nos playoffs foi um sucesso para os islandeses, mas algo maior os aguardava. Junto com Turquia, Rep. Tcheca e Holanda, a Islândia formou o grupo nas eliminatórias da Eurocopa, terminando em segundo lugar. Conseguiu vencer todos os adversários, inclusive mandando a tradicional Holanda para a valhala -salão dos mortos em nórdico antigo-, com vitórias nos dois jogos: 2-0 em casa e 1-0 fora de casa.
Não satisfeitos, os islandeses de Gunnarsson, Hallfredsson, Sigurdsson e do reserva e veterano Gudjohnsen se classificaram em segundo novamente, desta vez já na fase final da Eurocopa, disputada na França. A equipe empatou com Portugal e Hungria, e dependia de uma vitória contra a Áustria para garantir sua classificação. A vitória por 2-1 veio no apagar das luzes, com um gol histórico de Traustason, que nos rendeu uma histórica narração.
Então veio a Inglaterra e com uma atuação memorável de Sigurdsson, os islandeses repetiram a história dos vikings, despachando os britânicos de virada, numa noite memorável e histórica para o futebol, onde o tecnico Hallgrímsson amassou taticamente a Inglaterra de Roy Hodgson, que se demitiu do cargo.
As semelhanças entre a seleção e os vikings nórdicos não terminam por aí. Os costumes, legados do povo nórdico refletem na seleção, que levou 10% da população local para os estádios franceses, algo histórico. Estes torcedores promoveram cenas memoráveis, como os famosos gritos de guerra, algo parecido com o que os vikings - muitas vezes em menor número também- faziam em suas batalhas.
Como citado no texto, os vikings invadiram toda a Europa. Sobre comando de Ragnar Lodbrok invadiu a França após saquear a Inglaterra. Hoje, com outro Ragnar, desta vez Ragnar Sigurdsson, o time azul da terra dos vulcões procura cometer mais um crime contra, por coincidência, a mesma França que conheceu os vikings num passado distante.
Se a história irá se repetir, não sabemos, apenas ficaremos sabendo após o término da batalha, entre vikings e franceses. Entre uma potência e uma seleção que surpreende a todos, marcada para domingo, no Stade de France, às 16h.
Independente do resultado, os islandeses saem como vitoriosos após tamanho crescimento que alcançaram. Seus feitos nunca serão esquecidos. Após esta competição, o futebol islandês só tem a ganhar, cada vez mais vem se popularizando e mais pessoas vem praticando o esporte nas terras nórdicas. Assim como os vikings, obviamente em uma escala menor, os jogadores islandeses já deixaram sua marca e legado no futebol e na sociedade.



