A mais bela das temporadas


Acho que nunca mais veremos um período tão legal desse Esporte. Afinal, nunca mais ele nos presenteará com tamanhas surpresas e zebras. Elas vieram com imensurável força, raiva, atitude, vontade. E, dada nossa predominante condição humana, nós amamos isso tudo.

Eis que o Leicester, na Inglaterra vence a competição nacional. Eis que os "underdogs" que compõem o elenco tornam heróis. Eis a consagração de Claudio Ranieri, um improvável líder do improvável Leicester. Mas eis que não fora a única surpresa. Tottenham, um verdadeiro azarão, fazendo a melhor campanha de sua história. Southampton e West Ham, times belos e charmosos, alcançaram o direito a viajar pela Europa. Stoke City, Watford e Bournemouth surpreenderam em suas campanhas. Certamente, um campeonato maravilhoso.

No entanto, não é só na Inglaterra que a magia do futebol aconteceu. Na Alemanha, o renascimento de Chicharito Hernández e de Salomon Kalou são representações das belas campanhas de Bayer Leverkusen e Hertha Berlin, este último que põe fim em seu próprio calvário de "io-io", visto que se consolida na primeira divisão alemã. Na Espanha, a boa campanha do Eibar e a renascença do fantástico Villarreal, semi finalista da Europa League, demonstram que não é só Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid que mandam na terra das touradas. Na Rússia, o Rostov, humilde time da porção europeia do país, surpreendeu a todos os bebedores de vodka ao se manter vivo na briga pelo título até o fim, sendo chamado, curiosamente, de “o Leicester Russo”. Infelizmente, terminou o campeonato na segunda colocação.
O renascido Chicharito. Uma das surpresas da temporada.

Na Holanda, o Ajax, que chegava à última rodada como virtual campeão da competição, visto que enfrentaria o penúltimo colocado e dependia de si mesmo apenas para a conquista da Eredivisie, não conseguiu nada além de um empate contra o De Graafschap, entregando o título para o PSV no apagar das luzes. Na Itália, o Napoli jogou um dos mais belos futebol do continente, chegando a liderar a competição na Bota por muito tempo, mesmo perdendo a taça para a Juventus. Além disso, o atacante Higuaín ainda conseguiu o feito histórico de ser o maior artilheiro de uma edição do Campeonato Italiano. Não posso falar em Itália que fico com fome, vou ali fazer um macarrão...

Na América do Sul, na maior e melhor competição interclubes do mundo, o Campeonato Mineiro, o glorioso América superou os grandes Cruzeiro e Atlético e conquistou o Pãozão-de-Queijo. Em São Paulo, o Audax surpreendeu ao superar Corinthians e São Paulo, conquistando assim o vice-campeonato, atrás do Santos.
Indepiendente del Valle. Um dos quatro melhores da América. 

Já na Taça Libertadores, o São Paulo, que era dado para muitos como eliminado já na primeira fase, alcançou a semi-final. Na semi, também, o glorioso Del Valle surpreende um continente inteiro ao se afirmar como um dos quatro melhores do continente. E o charmoso time ainda desperta questionamentos em pessoas, como em meu pai, do gênero: "como um time com nome de suco chegou tão longe na Libertadores?”. Prova da condição bizarra de imprevisibilidade do futebol.

Segundo Zigmund Bauman, filósofo contemporâneo, valores, realidades, verdades são fluidas, líquidas, ou seja, voláteis. As coisas mudam numa velocidade incrível e, além disso, numa abrupta intensidade. Por exemplo, futebolisticamente falando, quando o Barcelona foi eliminado da Champions League pelo estimulante Atlético de Madrid, a equipe blaugrana passou de “o melhor time do mundo, imortal, maior ataque da história” para “um time não-infalível”. Prova dessa capacidade do futebol de destruir verdades absolutas, questionar dogmas e estimular a quebra de valores tomados como una e santa realidade. Como não amar o Esporte?

Falando em Atlético de Madrid, os colchoneros, mais uma vez, por meio da aplicação tática, suor, sangue, raça, disciplina e calma, chegaram novamente a uma final de Champions League. O futebol, com toda a sua magia que o envolve, disponibilizou uma possibilidade de “vingança” para a equipe da capital. O adversário, ninguém menos que o multi-campeão Real Madrid, grande potência do mundo do futebol, conquistou uma Champions League justamente em cima do Atlético, com direito a virada na prorrogação após gol nos acréscimos e choro, lágrimas e decepção, além de tê-lo eliminado no ano seguinte, nas quartas-de-final, com direito a gol milagroso do carismático Chicharito Hernández, já citado nesse texto que tens em mãos, Ó, caríssimo leitor. O coração colchonero vibra e arde.
Os guerreiros do Atletico novamente deixaram gigantes para trás e chegam a final.

Para, infelizmente, acabar, com tímidas lágrimas em meus olhos, que já suspiram pedindo o retorno dessa temporada incrível de futebol, um sonoro “NÃO SE VÁ”. Fique, 2015/16. Pelo menos em espírito. Pelo menos em animal. Pelo menos em zebra. Pois amamos esse animalesco lado do futebol da imprevisibilidade. Pois queremos nos emocionar novamente. Pois queremos novos “Leicesteres” em todos os lugares do mundo.

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