Sucesso em Nápoles e parte de um histórico Leicester - Gökhan Inler


A sensação da temporada européia sem sombra de dúvidas é a campanha no mínimo espetacular do Leicester City na Premier League. O clube vem calando todos os críticos e surpreendendo até o mais otimista dos torcedores. Conversamos com um dos membros dessa equipe surpreendente, o suíço Gökhan Inler. O jogador já era conhecido desde a época que foi um dos destaques do Napoli na Série A Italiana, além de jogar pela Suíça e ter participado da Copa do Mundo aqui no nosso país.

Confira na íntegra:

1.  No Brasil os holofotes estão todos em volta do Leicester. Muitos torcedores vão aparecendo e as fanpages não param de crescer ao redor do mundo. E na Inglaterra, como está a cidade com esse rendimento acima do esperado? Vocês sentem os torcedores mais próximos?

As pessoas na cidade agora estão falando muito mais sobre o Leicester City FC. As discussões esportivas aqui antes eram mais dominadas pelo rugby. Mas, agora é realmente tudo sobre futebol. No geral todos estão muito eufóricos, os fãs estão extremamente felizes e ainda estão sem acreditar o quão longe chegamos em um curto período de tempo. Normalmente a cada jogo o apoio que os fãs do Leicester City dão é formidável. Parece que eles ficam ligados numa tomada durante os 90 minutos. Sem dúvidas são o nosso décimo segundo jogador. A harmonia é grande, e eu adoro isso.

2. Você chegou ao Leicester depois de grandes temporadas na Itália. Quando a proposta do Leicester chegou, o que lhe foi passado quanto a objetivos? Acreditava que o projeto poderia render tanto quanto vem rendendo?

Ouvi pela primeira vez sobre o interesse do Leicester City no verão europeu de 2015, quando eu já estava na pré-temporada com o SSC Napoli, se preparando para a próxima temporada. Eu gostei muito da proposta e do conceito do clube para o futuro. A confiança que tiveram em mim pela minha experiência como jogador, terminou fechando um quebra-cabeça em um plano de longo prazo. O presidente e o diretor de futebol tiveram um grande trabalho para levar o projeto do clube adiante, bem como para me receber a bordo. Há uma grande quantidade de positivismo, e todos, inclusive os colaboradores, trabalham incansavelmente e de forma altamente profissional. Inicialmente, estávamos à procura de chegar aos 40 pontos e evitar o mais rápido possível o rebaixamento. Quando os bons resultados começaram a afluir com regularidade, o ambiente positivo que já havia, começou a dobrar. Você percebe a forma como o espírito de equipe está levando todos ao longo da temporada.


3. Já vemos muitas especulações mesmo antes das principais janelas abrirem, vocês acham que haverá um desmanche na sua equipe assim que terminar a PL ou o time conseguira manter suas estrelas e se reforçara ainda mais?

O sucesso faz parte da contribuição de cada jogador e eu não consigo ver o clube querendo se desfazer de algumas peças para o próprio bem. Se nós formos realmente jogar na Europa na próxima temporada, seja pela Liga dos Campeões ou Liga da Europa, então certamente vamos precisar de cada jogador da equipe, disponível e focado, para este desafio.
Inler foi o capitão de seu país na Copa do Mundo de 2014.

4. Como você vê o potencial da Suíça como liga e como seleção? Falamos com Barnetta sobre o assunto e ele nos disse que o país deveria focar em ser um bom centro para jovens jogadores no inicio da carreira. Acredita que esse seja o caminho para o fortalecimento da liga?

A liga nacional suíça têm evoluído ao longo dos anos e estão em um bom caminho pensando no futuro. Contudo, ainda tem espaço para melhorias. Percorremos um longo caminho nos últimos vinte anos, e a Federação Suíça de Futebol (SFV), também está fazendo o seu melhor para melhorar a qualidade no geral. Isso também é evidenciado na Swiss Super League (primeira divisão) ou Challenge League (segunda divisão), onde as equipes promovem regularmente jovens talentos suíços em suas primeiras equipes, permitindo-lhes crescer e continuar desenvolvendo as suas qualidades. Mas isso também se aplica aos jovens no estrangeiro, como François Moubandje, em Toulouse. Mas para ser honesto, eu realmente não posso dizer muito sobre o campeonato suíço, porque eu não tenho jogado lá por pelo menos quase nove anos. Muita coisa mudou, mas pelo que percebo, o futebol arte tem melhorado. O FC Basel tem se mantido no topo com regularidade e estão jogando num bom nível, mas as outras equipes estão se recuperando e mostrando também o seu valor. No geral, há uma sensação de um trabalho bem feito e duradouro, e uma prova disso é a saída de jovens jogadores talentosos suíços para outros grandes centros, como Breel Embolo. Para o país do tamanho da Suíça, isso é bastante notável.

5. Como já mencionamos anteriormente, você teve ótimos momentos na liga italiana. Qual é a principal diferença entre o futebol inglês e italiano? É muito distinto o estilo de jogo?

Bem, o futebol italiano é mais dominado pelo sistema tático, é como um xadrez na grama. Você joga a bola para trás e espera pelo momento decisivo para romper a defesa do time adversário. Paciência é a chave. A Premier League, no entanto, tem um ritmo muito mais elevado, o que exige mais fisicamente de nós jogadores. Você começa a ver mais cruzamentos também. É acelerado. Árbitros tendem a não parar o jogo quando confrontados com situações de jogadas corpo a corpo. Eles não dão uma falta tão frequentemente como na Itália.

6. Além de estar numa equipe que disputa o titulo inglês, sua ex-equipe também está disputando ponto a ponto o título italiano. Qual o seu sentimento para com o Napoli? Está acompanhando o Calcio e torcendo para a equipe napolitana?

Depois de quatro anos jogando pelo Napoli, você não pode negar que ainda há uma conexão no clube. A cidade, o clube e os fãs, me deram muito ao longo do tempo que vivi e joguei por lá. Eu tento seguir vários campeonatos de futebol em toda a Europa, e a Série A italiana está incluso nisto. Estou muito feliz pelo sucesso atual do Napoli. De vez em quando, quando o tempo permite, eu também assisto ao vivo a um jogo do Napoli, pela televisão.
Inler acompanha quando pode seus ex-companheiros. Na foto, o volante comemora gol junto de Hamsik.

7. Muita gente atribui a grande campanha da sua equipe ao trabalho do treinador. Como tem sido a relação do grupo com o treinador italiano Claudio Ranieri? Tem aceitado bem não poder estar em campo todas as partidas mesmo sendo um nome já consolidado no cenário europeu?

O "Mister" (treinador) está fazendo um excelente trabalho e isso não é tão simples para alguém que acaba de assumir um novo clube. Mas ele é uma pessoa muito legal, e conseguiu trazer jogadores que ajudaram a melhorar as nossas qualidades no geral, e que só fez somar ao grande espírito de equipe que já estava aqui antes. Pessoalmente, apesar de não jogar sempre, eu continuo trabalhando duro e fazendo o meu melhor para ajudar a equipe no vestiário ou durante o treinamento. Quando a equipe está indo tão bem como está indo agora, você tem que aceitar a situação no sentido do treinador não ter a necessidade de mudar as coisas na equipe. Eu me vejo como uma peça do nosso quebra-cabeça e eu estou sempre lá para o que precisarem. Eu estou pronto para ser chamado se o treinador precisar de mim dentro de campo.
Mesmo do banco, Inler dá sua parcela de contribuição e busca ajudar sempre que preciso.

8. O que você sabe sobre o nosso futebol? Sabemos que a imprensa internacional não notifica praticamente nada sobre a nossa liga, por isso é difícil de acompanhar. Mas existe algum time em especial que você tem conhecimento por aqui?                                                                                                          
Bem, de vez em quando eu assisto alguns melhores momentos da Série A brasileira na TV. E sempre há um ‘livescore’ no meu celular também. Eu acho que é uma grande liga, de alto nível e tecnicamente excelente. De cabeça eu poderia citar algumas grandes equipes que eu lembro, como Fluminense, São Paulo e Corinthians. Esses são clubes que eu conheço. Eu comecei a ter contato com o futebol brasileiro há algum tempo, principalmente graças a ex-companheiros de futebol, na época que joguei na Itália: Eu sou amigo do Alexandre Pato. Mantenho contato regular com Pablo Armero. Mas, acima de tudo, eu tive uma boa impressão do futebol brasileiro durante a Copa de 2014. Eu nunca vou esquecer a atmosfera, o êxtase geral e alegria dos fãs brasileiros de futebol. Em particular, o apoio que nos deram com seleção suíça, durante a rodada das oitavas de final, contra a Argentina, em São Paulo.

9. Ainda com 31 anos, tem muita coisa pra acontecer na carreira, mas já tem sua aposentadoria planejada? Quem sabe ser técnico, dirigente..

Eu não me imagino me aposentando num futuro próximo. Ainda há um longo caminho a percorrer. Eu cuido do meu corpo e estou em grande forma e simplesmente tenho prazer em jogar futebol. Mas aconteça o que acontecer, quando eu encerrar a minha carreira, eu adoraria manter-me fiel ao futebol. Mas, eu simplesmente não sei ainda em que direção exatamente gostaria de ir.
Quando foi a campo, Inler fez bem seu papel. Lutou muito, como é a característica da equipe.

10. Foi um prazer para nós fazer essa entrevista! Deixe uma mensagem para os seus fãs e também para quem está torcendo pelo Leicester aqui no Brasil.

Eu gostaria de estender meus cumprimentos a todos os fãs do Leicester de toda a parte, e aos que apreciam me ver jogando e me seguem ao longo dos anos. Continuem nos apoiando para que nossa equipe possa avançar cada vez mais. Tudo está indo muito bem aqui, a energia positiva é contagiante e toda a equipe está dando 110% a cada dia. Esta situação, bem como a relação com a torcida pode fazer com que cada jogador trabalhe ainda mais. E para um grupo em que todos tem o mesmo objetivo, isso é fantástico.

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