Análise de extremos


No país do imediatismo, as opiniões são altamente mutáveis. Rapidamente o gênio vira burro, o craque vira pereba, o herói vira vilão e por aí vai. A principal vítima desse 8 ou 80 é o treinador, por exemplo, que por qualquer sequência ruim de resultados acaba sendo o primeiro a deixar o clube. Geralmente os jogadores vem em seguida, e os dirigentes na base da pirâmide.

Num processo natural, o Palmeiras dessa temporada tinha no treinador o grande culpado por todos os problemas do clube. Seus torcedores insistiam que o elenco era um dos - se não o - melhores do país, mas, estavam sendo prejudicados pelo atrasado Marcelo Oliveira. Não que estivessem errados. A evolução alviverde foi praticamente nula com o treinador e sua demissão é bem justificável. No entanto, o ponto do texto é outro.
Mesmo com o péssimo trabalho, que nitidamente prejudicou o rendimento dos atletas, muitos já tentam "tirar a culpa" de Marcelo e transferir para o elenco.

Hoje, depois de mais um resultado ruim e da segunda derrota do novo treinador, a torcida se voltou ao elenco e a quem o montou. O que há cerca de duas semanas era o melhor elenco do país, hoje é considerado fraco e carente de vários reforços.

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Pois é. A vida de grande parte dos torcedores do país é apontar erros e culpados. Esperar pelo trabalho de Cuca, que ainda não teve nem uma semana para trabalhar, é dificil. É muito mais fácil querer de novo um time todo novo, como foi no ano passado. Cobrar do treinador uma evolução nas próximas semanas e esperar para ver o rendimentos dos atletas é pedir demais quando se pode criticar o dirigente por ter contratado tanto.

De fato, foram contratados muitos jogadores, alguns desnecessários. O grande poder financeiro do clube acabou cegando um pouco, e toda e qualquer oportunidade que surgia era uma contratação "necessária" para o staff. Porém, o que é risível é vermos a torcida criticar essa metodologia, sendo que, o dirigente que a fez ganhou fama, foi quase idolatrado e segundo a grande massa, "trouxe de volta a esperança aos torcedores alviverdes". Mais uma prova de que analisamos a ação de momento e só. Não olhamos para o longo prazo, para o quanto os jogadores vão render durante a temporada, se encaixam com a filosofia do treinador e do clube. Só queremos gente na sala de imprensa prometendo honrar a camisa e inflando o elenco de opções, mesmo que medianas.
De herói a vilão? Elogiado por muitos no começo, hoje já recebe várias críticas.

Mas, a ciência não é exata. No futebol nem sempre podemos lidar com a óbvia da probabilidade. Em vários aspectos da vida, quanto mais se tentar, maiores as chances de acertar. Já no esporte bretão, a lei não se aplica as contratações. Contratar pouco as vezes é o segredo para acertar mais. Gastar um valor x com dois jogadores bons é bem mais rentável e provavelmente vá dar mais certo do que trazer 5 apostas.

Analisar o elenco agora é bem oportunista e é impossível não olharmos para o rendimento das últimas partidas. Vermos que faltam opções de qualidade em vários setores do campo é fácil, mas será mesmo que, se bem treinados, eles não podem render?

No atual futebol, muito dos resultados que vemos em campo é proveniente da eficiência tática. Um jogador pode ser excelente tecnicamente, escalado de forma errônea e acompanhado de um time sem encaixe, com certeza vai render bem menos do que pode.
Com tempo, Cuca pode novamente fazer o time render, e com isso, as análises vão mudar: "elenco excelente".

A imagem de que Alexandre Mattos é um herói foi absurdamente supervalorizada. A qualidade da maioria dos reforços alviverdes também. Mas, para analisar, tem de haver um meio termo. Não estamos tratando de um elenco absurdamente excelente e que sobra em território nacional, mas nem por isso falamos de um apanhado de atletas ruins e que não tem capacidade para atuar pelo clube.

O plantel é bom, várias opções de valor podem render muito mais com Cuca. Mas para isso, vai ser preciso o que o brasileiro mais odeia no futebol: dar tempo para que ele trabalhe. Enquanto isso, é bem provável que sigamos vendo as analises extremistas baseadas unicamente em resultado ou na procura por um culpado.

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