Alternativas táticas – Cruzeiro

Em meio a um mercado que apresentou ótimas contratações feitas por times brasileiros, uma que discretamente conseguiu destaque foi a equipe de Mano Menezes. O Cruzeiro foi um dos clubes que mais aumentou o nível do seu plantel em relação ao ano anterior. Conseguiram manter a base, com pouca ou talvez nenhuma perda significativa, liberaram jogadores com pouca probabilidade de terem espaço durante a temporada e trouxeram reforços pontuais e de muita qualidade ao elenco, sobretudo o meia-atacante Thiago Neves.

Em 2016 a equipe celeste sofreu dificuldades no começo até a primeira metade do campeonato brasileiro com o técnico português Paulo Bento, mas achou os rumos e conseguiu uma regularidade após a chegada e readaptação de Mano ao time. De fato, qualquer estudioso de futebol vai notar que Mano não é um treinador comum em âmbitos nacionais, ele merece sim ser reconhecido como um dos melhores do Brasil atualmente (e pra muitos, o melhor depois de Tite). Um técnico que conseguiu obter o máximo de uma das formações mais comuns do futebol brasileiro nos dias atuais: o famoso 4-2-3-1. Entretanto, mudando um pouco o estilo e adicionando alguns conceitos modernos, vamos a algumas alternativas táticas para o clube mineiro.

O 4-3-2-1 de Ancelotti: “Carrilleros” no Brasil:

Também chamada de "arvore de natal", uma das formações mais bem sucedidas na década passada foi o 4-3-2-1 do Milan de Ancelotti, na temporada 2006-07, que reunia craques como Maldini, Nesta, Pirlo, Kaká e Seedorf, e levou a equipe rossonera à conquista da UEFA Champions League.

Fora de comparação, obviamente, a equipe do Cruzeiro tem alguns jogadores com características semelhantes aos atletas que faziam parte do esquadrão de Ancelotti, entretanto, a base tática a ser levada em conta está direcionada apenas à formação e algumas funções mais específicas.

Antes de mais nada, afirmamos aqui que todas as ideias pensadas, baseando-se no melhor 11 possível da equipe, estarão atreladas a sistemas mais controladores de jogo, mais ofensivos. Isto vai se dar, além de outras coisas, por uma defesa com bom vigor físico, velocidade e capacidade de combate no mano-a-mano, atributos essenciais para uma defesa que joga adiantada, fazendo pressão no adversário pra providenciar a compactação no campo de ataque e recuperar a bola com rapidez para voltar a ter controle de jogo caso haja uma perda de posse, o tão conhecido gegenpressing.

Como todo e qualquer sistema de jogo, é completamente errado pensar em apenas um modelo para ser aplicado. É necessário que se pense em diferente alternativas ao próprio esquema, sem necessidade de mudança na estratégia geral ou no shape. É possível manter a formação, a ideia ofensiva, mas alterando peças e funções, por isso o onze ideal terá algumas alternativas. O mesmo segue:

Algumas observações precisam ser feitas, contanto. A presença de Lucas Silva e Robinho no meio requere um outro meia, mais defensivo, capaz de providenciar equilíbrio à equipe. Tanto Thiago Neves quanto Arrascaeta acabam sendo meias que também podem abrir pra providenciar amplitude e puxar a marcação pra infiltrações pelo centro de Robinho. Outros conceitos precisam ser esmiuçados de uma forma mais precisa:

- O regista: O principal jogador a dar motivação a fazer esse texto sem dúvidas foi Lucas Silva. Um volante que, embora tenha certa capacidade de marcação, é conhecido por sua qualidade técnica, lançamentos precisos e distribuição de jogo como poucos em terras canarinhas. Nesse sentido poderemos sim comparar, claro dando às devidas proporções, este sistema com o de Ancelotti no Milan, que trocava os conceitos de primeiro e segundo volante no Brasil pra ter um jogador mais técnico e com bastante espaço para pensar e produzir o jogo de trás, função exercida por Pirlo no clube italiano, assim como possuir um jogador mais brigador numa faixa mais à frente do campo, onde pode providenciar um gegenpressing mais forte e de mais qualidade, comparando à função feita por Gattuso.

- O “carrillero”: Para quem não sabe, o carrillero é uma função muito usada no futebol argentino, onde um meia central atua tanto na etapa de criação, mas providencia amplitude a partir de movimentos horizontais, fazendo uma dobra junto ao lateral e permitindo a descida do meia ofensivo, que puxa a marcação de um volante, abrindo espaço entra as linhas. Essa é a função de Robinho neste sistema, mas que também pode ser exercida pelo argentino Lucas Romero. Robinho vive a melhor fase na carreira e por isso decidimos sacar Romero, mas não se deve subestimar o hermano. Lucas teve seus tempos de glória no Vélez como uma das principais revelações do campeonato nacional atuando como um jogador de ligação, com mais chegada ao ataque. Tendo mais liberdade, pode ter maior rendimento, utilizando sua versatilidade aliada à boa capacidade de criação. Vale citar que existe a possibilidade de se escalar Romero e Robinho juntos, como dois carrilleros, após bastante treinamento, mas exige a retirada do Regista, já que perderia o tal equilíbrio citado anteriormente, portanto, é possível a entrada de Hudson ou Henrique como volante, preferencialmente na função de pivô defensivo.

Para a função do ataque, é necessário que o jogador tenha um bom movimento sem bola e saiba como “empurrar” a defesa à própria meta, pois um time que preza pela posse de bola e por um futebol ofensivo necessita manter a bola em seu campo de ataque e pela falta de jogadores de profundidade, que talvez seja o principal defeito de todo o esquema, por este motivo Sóbis é o favorito a assumir o posto, seguido por Ábila.

O 4-3-3 com Falso Nove

Em busca de uma segunda alternativa plausível com base no elenco cruzeirense, temos o grande 4-3-3 que fez grande sucesso sob regência de Pep Guardiola, levando em prática o que pra muitos é considerado o melhor time de todos os tempos. Com este plantel, existem muitas semelhanças daquele time catalão de 2011 (novamente, deem as devidas proporções).

Para levar os onze inicial a campo, apenas uma mudança será necessária com relação ao anterior, o regista passa a não ser tão necessário num sistema com tantos apoios, opções de passe, dando lugar a mais um meia. Neste caso, o meia recuperador faz a função de primeiro volante e a existência de dois jogadores ofensivos no meio de campo se torna essencial: Robinho e Lucas Romero. Outra mudança pequena é apenas a troca de posição entre Rafael Sóbis, que se tornará um Ponta Esquerda semelhante ao papel que Villa fazia no time espanhol, passando o uruguaio De Arrascaeta para o centro do ataque, entretanto mais recuado, na função de Falso 9. A ideia principal é fazer com que Arrascaeta ocupe a zona entre as linhas de meio campo e defesa, tendo espaço necessário para o drible curto e passes para jogadores que buscam infiltração, principalmente os pontas (Thiago Neves e Rafael Sóbis). É possível que com este estilo de jogo Arrascaeta conseguisse números extremamente expressivos, levando-o a prêmios individuais e, por consequência, a conquistas de títulos por parte do clube.
Jogando de Falso 9, Giorgian De Arrascaeta tem potencial para ser um dos principais jogadores no futebol brasileiro.
O grande problema desta formação e que leva à preferência do 4-3-2-1 é a escassez de bons meias armadores que também são combativos. Apenas Robinho e Lucas Romero podem fazer essa função, o que leva o elenco a ser limitado a uma escalação fixa, sem tantas modificações. Acredito que Lucas Silva não teria a mesma eficácia, dada à pouca mobilidade e a uma provável perda de resistência física proveniente de seu problema cardíaco, o que seria necessário para avançar e fazer pressão à linha defensiva e aos volantes da equipe oponente. Entretanto, é uma formação que, com o onze ideal, tem tudo pra ser a mais eficiente, por apresentar maior variedade de origem de jogadas, mais jogadores agredindo a área, um jogo de posição mais decente e pela presença de Arrascaeta, que como dito, pode levar o clube ao sucesso.

Uma equipe moderna, com um futebol ofensivo e plástico é tudo o que combina com o Cruzeiro e seu atual elenco, misturado ao bom estrategismo e leitura de jogo de Mano. Com essas propostas e suas variações seria possível tornar o Cruzeiro uma das frentes mais fortes do Campeonato Brasileiro, brigando por títulos em âmbito nacional e, quem sabe, com mais poucos bons reforços, se tornando uma potência continental.
Compartilhar: Plus