Primeiras impressões: Vai ser preciso trabalho



Foram apenas os primeiros jogos do ano contra Ceará e Santa Cruz, ambos valendo simbólicas taças. A equipe cearense vinha ainda motivada da heroica sobrevivência na Série B do Brasileiro, e o Santa Cruz pelo acesso, mas ambos têm times nitidamente inferiores. As duas derrotas (uma nos pênaltis) obviamente não servem para deixar o torcedor em alerta, mas evidenciou ainda mais os defeitos do time. Muricy Ramalho, o novo treinador rubro-negro já deu indícios em relação ao esquema que pretende utilizar em 2016, mantendo o 4-1-4-1 como referência para o posicionamento dos jogadores.

Muricy que é acostumado a montar boas defesas, já viu que vai ter bastante trabalho enquanto um outro defensor não chegar à Gávea. Wallace, titular no ano passado, logo na estreia teve exibições tragicômicas. Parecendo perdido, cometeu uma série de erros ao longo da partida e mostrou deficiências técnicas tanto para sair jogando quanto nos aspectos defensivos. Juan estreou bem, conseguindo cobrir algumas falhas do companheiro na primeira partida e mostrou qualidade técnica, porém a já esperada lentidão teve influência no primeiro gol da equipe cearense. O pênalti contra o Santa, entretanto poderia ser evitado, e o defensor formado na Gávea acaba ficando com saldo negativo somadas as duas exibições. Nas laterais Jorge foi quase sempre mais contido pela esquerda (embora demonstrasse bastante qualidade ao avançar), enquanto Rodinei subia ao ataque com grande frequência (embora não tão determinante). Na segunda etapa dos dois jogos os lados de referência ao apoio se inverteram. Pará foi mais contido pela direita, enquanto Chiquinho com boa atuação na estreia (incluindo uma assistência) foi presença frequente no ataque pela esquerda. Apesar da boa exibição ofensiva, o jogador já mostrou que a marcação não é muito a sua praia, sofrendo com os avanços do Santa Cruz pelo seu lado e mesmo na estreia, especialmente no lance do segundo gol da equipe do Ceará.
Wallace teve pífio desempenho nos dois jogos

Outro aspecto negativo foi a ineficiência de Paulo Victor na meta do Flamengo. A expressão “chama gol” parece estar perseguindo o goleiro desde o ano passado, pois a maioria das bolas que vão na direção de suas balizas, acabam parando no fundo da rede. Apesar de não ter tido tanta culpa nos gols, Paulo Victor na fase que mostrou 2014, provavelmente teria defendido o chute de Siloé, no primeiro gol do Ceará.  Já contra o Santa Cruz, Alex Muralha até começou bem o jogo, mas a falha no gol ao final do jogo pôs em cheque a capacidade do recém chegado arqueiro de disputar vaga com Paulo Victor.
Nem Paulo Victor nem Alex Muralha agradaram 

O meio campo inicialmente composto por Márcio Araújo, Everton e William Arão não funcionou. O primeiro mais recuado, não tem características de criação, mas distribuiu alguns bons passes e fez bem o feijão com arroz. Não pode ser o titular da equipe, mas sem dúvidas é um jogador útil na composição do elenco. Everton não conseguiu imprimir a velocidade que é seu ponto forte e juntando a isso as já conhecidas limitações técnicas, acabou deixando a desejar. Já o estreante William Arão mostrou interessante movimentação. Com bastante presença ofensiva e rápida recomposição, o ex-jogador do Botafogo estava em todos os lugares do campo. Entretanto não é um jogador criativo, nem possui um passe tão refinado. Contra o Ceará o ex-botafoguense foi apenas razoável, porém contra o Santa saiu destacado, inclusive por ter sido o autor do único gol rubro-negro. O que se viu no meio campo rubro-negro na primeira etapa contra o Ceará foi um verdadeiro deserto de ideias. Já na partida contra o Santa ouve nítida melhora no funcionamento do trio, especialmente pela utilização de Gabriel na função de Everton que conseguiu fazer melhor a transição.
William Arão promete ser útil ao elenco Rubro-negro

Na segunda etapa dos dois jogos, Muricy mudou completamente as características do meio campo. Contra o Ceará trouxe Jonas, Mancuello e Canteros, visando dar mais criatividade ao meio. Contra o Santa o mesmo trio, além de Alan Patrick e Jajá(jogaram abertos, alternando de posição com Mancuello). Jonas foi a maior decepção. Sempre com enormes dificuldades para sair jogando sob pressão e afobado nas tentativas de desarme foi substituído rapidamente no primeiro jogo para a entrada de Alan Patrick. Contra o Santa, permaneceu e perdeu a bola no lance que originou o segundo gol da equipe da casa. O "Schweinsteiger do Maranhão" em nada lembra o bom futebol do volante alemão e deve perder espaço com a chegada do colombiano Gustavo Cuéllar. Hector Canteros (aparentemente mais magro) que viveu má fase em 2015,entrou muito bem, mostrando boa saída de bola, apesar de ainda impreciso nos passes longos. A partir da saída de Jonas foi utilizado apenas como primeiro volante e teve nítida melhora de rendimento. A torcida espera nele o retorno do bom futebol dos tempos de Vélez Sarsfield e do segundo semestre de 2014 no Flamengo. Alan Patrick, um dos destaques da temporada passada também mostrou bom desempenho, participando inclusive da jogada do segundo gol no jogo contra o Ceará. Já contra a equipe pernambucana o meia acabou sendo menos participativo, não merecendo destaque. Entretanto o grande destaque rubro-negro nos dois amistosos foi o estreante Mancuello. O ex-volante do Independiente fez bela assistência para o gol de Emerson e participou da jogada do terceiro gol. Quase tão incisivo quanto William Arão, apareceu bastante à frente nos dois jogos, seja pelo centro, seja pelo lado esquerdo, porém nitidamente com mais recursos técnicos. Ágil e com muita qualidade de passe, o volante que já chamou atenção de Tata Martino, pode vir a ser um dos principais jogadores do clube carioca para 2016.
Mancuello foi o jogador com melhor rendimento nos amistosos



Se Muricy Ramalho cumprir a palavra de que o que estiver melhor, vai jogar, independente do “peso”, provavelmente não terá problemas na posição. Caso contrário, Paolo Guerrero pode se tornar a grande pedra no sapato, tanto do comandante, como da maior torcida do Brasil. O jogador virou a temporada, mas seu péssimo momento (se é que pode chamar assim) não ficou em 2015. Contra o Ceará, Guerrero perdeu três oportunidades e nem na disputa de penalidades o peruano conseguiu colocar a bola no fundo da rede. Contra o Santa novamente passou em branco, estando bastante apagado apesar da assistência para o gol de Arão. Mas o grande problema, não está apenas no quesito bola na rede. Guerrero se mostra ineficiente em muitas das jogadas que tenta, apesar de eventualmente acertar alguns bons passes e pivôs. Com todas as expectativas, as críticas são merecidas para quem não se mostra nem como goleador, nem como referência técnica. Já na ponta esquerda, Emerson, acabou por fazer uma boa estreia, jogando mais efetivamente no segundo tempo. Além de marcar um gol, Sheik deu uma “assistência” para o zagueiro Salazar marcar contra sua própria equipe, mas deixou a desejar na partida de domingo. Gabriel contra o Ceará foi relativamente bem nas bolas paradas, circulou por todo o ataque, mas foi pouco efetivo, não tendo nada a ser destacado além de um drible ou outro. Entretanto, teve nítida melhora em seu rendimento ao mudar de função com Everton diante do Santa, fazendo bem a transição de jogadas. A decepção da temporada passada, Marcelo Cirino foi uma grata surpresa na estreia, pois apesar de ter desperdiçado uma chance inacreditável, o jogador efetuou bons lances, como um cruzamento na cabeça de Guerrero, que o camisa 9 desperdiçou. Além disso, marcou o gol da breve virada nos acréscimos da partida. 

Os resultados negativos preocupam, mas não são tão alarmantes quanto parecem, principalmente por algumas boas exibições individuais. No geral, Muricy ainda terá bastante trabalho na organização e composição da defesa do Flamengo. Um reforço para a zaga (pedido por Muricy em entrevista logo após a partida contra o Santa) é necessário e provavelmente deve vir do futebol argentino. Do meio para frente ainda terá algum trabalho para encaixar algumas peças, mas apesar disso, já deu para perceber que tem jogadores com as características que quer o treinador, especialmente com a provável chegada do volante colombiano Cuéllar e com a recuperação de Ederson no decorrer ainda do primeiro semestre. O único problema até o momento, como foi ressaltado é Paolo Guerrero. Se o peruano continuar com esse rendimento que não é 10% do que se esperava, Muricy não deve pensar duas vezes em saca-lo e dar oportunidades para Kayke (que se lesionou jogando futevôlei nas férias), Baggio – que teve má participação no jogo contra o Santa Cruz no Arruda e quem sabe até mesmo Felipe Vizeu, (precoce, mas de ótimo desempenho na Copa São Paulo de Futebol Jr). Se não recuperar o seu futebol, a diretoria deve tentar negociá-lo visando uma redução na folha salarial (Guerrero recebe 900 mil reais, contando as luvas), abrindo brechas para novas contratações.



Texto com co-autoria de Raphael Felice Motta
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