Deixem-o em paz


A maior entidade de concreto do futebol, comparável apenas ao Wembley e ao Azteca. O Maracanã é um cartão postal nacional, sua grandiosidade é vista em qualquer take aéreo do Rio de Janeiro. A gigantesca bola que se destaca no meio dos prédios e avenidas, ao lado da Radial Oeste e flertando com a comunidade da Mangueira (sim onde atua a atual campeã do carnaval carioca), com acesso a metrô, trens e ônibus para todos os lugares do Rio de Janeiro. Com vista para os prédios da São Francisco Xavier e para a tão concorrida Universidade Estadual do Rio de Janeiro, famosa UERJ.

O Maracanã tinha vida própria, tremia, sacolejava, parecia que sentia a cada bola que entrava naquele véu de noiva charmoso e idolatrado até hoje pelos mais velhos. Arquibancada azul, verde, amarela, branca, todas derivadas da famosa geral. Onde o próprio nome se materializa sobre o que se refere o setor. Geral, sem separar por time, por cor ou por gosto. A geral é o símbolo do Maracanã no auge da paixão popular, a geral simbolizava a diversificação de um povo mestiço na sua essência.

Penso em quantas vezes essa entidade colossal já despertou o amor de crianças, que ao subirem a escada da arquibancada superior pela primeira vez na vida, se surpreendem ao olhar para aquele tapete verde que parecia tão longe, mas tão perto que não se enquadrava em um único olhar. É sério, para quem nunca foi, a sensação de ver este gramado pela primeira vez era única, singular, não havia nada que se parecesse com aquele sentimento.
Esse olhar é único.
Mitificado por duas finais de copas, em 1950 vimos o maior "vilão" da história do futebol brasileiro ser criado, Barbosa. Em 2014 ficamos entre ver a seleção que nos impôs a maior goleada da história ser campeã novamente ou, ver a Argentina levantar o caneco na nossa cara. Folclórico por reboladas do Edmundo, pela invasão Corinthiana, pelo Cabañas, pelo gol de Cocada e muitas outras lembranças. Eternizado em músicas, nos poemas de Nelson Rodrigues e João Saldanha. O mundo nunca viu nem verá uma aura tão magnífica como essa.

Orgulho eu tenho por ter este monumento no meu estado. Esse estádio é aquele que não importa o quanto você passe por ele, sempre que olhar vai pensar: "isso é tremendamente gigantesco", seja da janela do trem, do carro ou do ônibus, não importa. Era tão imenso que dava medo, a última rampa da arquibancada superior parecia levar ao céu, a sensação era conseguir tocar as nuvens.

Tentaram e estão tentando destruir você, monstro. Mas mal sabem eles que lendas atemporais não morrem, mas renascem. Suas histórias, seus grandes feitos, cada suspiro que tirou de nós, todo o ímpeto que inspira e cada lágrima que caiu dos olhos de um torcedor sincero, tudo isso faz parte de um bem imaterial que transcende a passagem do preto e branco para o colorido, isso é eterno, e viverá na mente de cada apaixonado pelo esporte.
 Cada um deles, tem uma memória igualmente sensacional desta entidade.
Deixem meu estádio em paz, canalhas. Os clubes cariocas sobrevivem sem o Maracanã, mas a paixão do meu filho, que abriria a boca estupefato com a imensidão do Mario Filho, pode não nascer por culpa de vocês.
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