ÍCONES ALTERNATIVOS #12 - O primeiro diamante irlandês

Falando rapidamente, quais são os jogadores marcantes que a Irlanda já teve na história do futebol? A maioria vai citar Roy Keane, Robbie Keane e Given. Uns talvez citem O´Shea e Dunne. Mas provavelmente nenhum citará aquele que talvez tenha sido o maior de todos, Johnny Giles.

Nascido na capital irlandesa, John (que só foi adquirir o apelido de Johnny anos depois) foi encorajado a tentar ser jogador pelo seu pai, Christy, que atuou pelo Bohemians na década de 1920 e anos mais tarde, foi treinador do Drumcondra, já na década de 40.

Começou sua carreira júnior no Stella Maris e despertou o interesse do Manchester United. Sendo assim, o clube inglês adquiriu o meia por míseras 10 libras, em 1956. Com apenas 19 anos, Giles entrou em campo como profissional pela primeira vez. Em decorrência da tragédia de Munique, que matou grande parte do plantel dos Red Devils, o irlandês teve que debutar de forma precoce.

Passada a adaptação, o meio campista se firmou como um dos jogadores mais atuantes do time durante quatro longos anos com a camisa do Manchester United. Porém, não era dada a chance de protagonismo a ele, visto que o atleta jogava em um time que possuía nomes fortes como Denis Law e Bobby Charlton. Mesmo assim, Johnny foi campeão da FA Cup de 1963.

Ainda em 1963, o jogador teve uma queda de rendimento e foi sacado do time pelo icônico técnico Matt Busby, que a esta altura, já imaginava um United sem o irlandês. Fato que acabou “forçando” a saída do meio campo, o destino foi o Leeds United, o clube pagou 33 mil libras pelo jogador, que saiu brigado com Matt.

O meia precisava ser protagonista.
Naquela época, o Leeds pertencia a segunda divisão inglesa. Com a chegada de Giles, o time conseguiu o acesso vencendo a liga. A partir daí, Johnny se firmou como um dos meias com mais classe do futebol inglês, sempre pensante, o irlandês demonstrou uma capacidade de reger que não haviam visto em Manchester, fazendo com que o Leeds jogasse na sua batuta.

Apesar de enfrentar os esquadrões fenomenais de Liverpool e Manchester United, o Leeds se manteve na cola dos dois nos anos que se sucederam, Giles encontrou naquele meio campo um companheiro com quem tinha um entrosamento natural, Billy Bremner. O irlandês tinha o dom criativo, enquanto Billy era quem roubava as bolas. Don Revie (treinador do Leeds na época) percebeu a afinidade dentro de campo e montou um time que jogasse para eles, assim estava formado um plantel vencedor. 

Um rouba, o outro cria.
Foram 2 Campeonatos Ingleses (68/69, 73/74), 1 FA Cup (71/72), 1 Copa da Liga (67/68) e 2 Inter Cities Fairs Cup (68/69, 70/71). O time comandado por Giles se firmou no topo do futebol inglês durante quase uma década inteira. Há de se citar também a incrível contribuição de Jack Charlton, o defensor foi o pilar daquela equipe campeã durante todos esses anos em que se mantiveram entre os grandes ingleses.

Um dos maiores feitos de Giles veio apenas em 1975, já com 35 anos e caminhando para sua aposentadoria, liderou o Leeds em uma heroica campanha na Champions de 74/75. Onde superaram grandes times da época como Anderlecht e Barcelona, parando apenas na final, diante do poderoso Bayern de Gerd Muller. O time inglês perdeu por 2 a 0 no jogo final e deu fim ao sonho de vencer o título mais importante da Europa, mas faltou pouco, muito pouco.

Se serve como curiosidade, Johnny a essa altura, não só atuava pela seleção irlandesa como também a comandava. Sim, era técnico e jogador na Irlanda. Após a perda da UCL, Giles assinou com o WBA e passou a desempenhar a mesma dupla função em seu novo clube. Com isso, o meio campista se tornou técnico e jogador de dois planteis diferentes.

No WBA foram mais de 50 jogos com dupla função, com um relativo destaque para um sétimo lugar na primeira divisão. Na Irlanda, não conseguiu sequer chegar a uma Copa, embora a fraca geração que o acompanhou tivesse uma culpa nesse fracasso pessoal. John passou ainda pelo Philadelphia Fury e encerrou sua carreira no Shamrock Rovers, aos 40 anos de idade.

Após aposentado, Giles recebeu uma série de honrarias que coroam sua sólida carreira, foi condecorado pela federação inglesa como um dos 100 melhores jogadores de todos os tempos da liga, também foi eleito pela torcida do Leeds para integrar o time dos sonhos do clube. Além disso, recebeu o prêmio Jubilee da FIFA em 2004, que o reconhece como o melhor irlandês dos últimos 50 anos (contando de 1954 até 2004).

Depois que pendurou as chuteiras, sua grande carreira foi reconhecida.
Johnny teve de aprender a ser mais resistente em campo, perante o grande ímpeto criativo e alto volume de jogo que o meia tinha consigo, alguns adversários acabavam se excedendo na hora de marca-lo, fazendo com que o craque irlandês sofresse alguns traumas físicos que o levaram a trabalhar mais a resistência para alcançar seu ápice. Giles também era um exímio batedor de pênaltis.

Após ser jogador e treinador, John se lançou na carreira jornalística, no RTÉ Sports. O jogador também lançou um livro, que se tornou um best seller na Irlanda, detalhando toda sua carreira, e visão de vida, chama-se “A football man”.

A autobiografia do craque.

Segundo declaração recente do irlandês, os técnicos hoje em dia acham que tudo é culpa de tática.

“ Se os jogadores não estão jogando bem, muda-se a formação. É sempre tudo culpa das táticas, você vê o time jogando de uma forma pobre, tomando 2 a 0 no primeiro tempo, jogando na base do chutão, e só falam sobre mudar a formação. A formação que se joga não é o problema, o time precisa saber tocar a bola um para o outro”.

John também possui uma fundação na Irlanda, que tem como objetivo ajudar as crianças da periferia irlandesa a terem um vida melhor, manter elas longe das drogas e do crime, por exemplo.

Johnny Giles com toda certeza, foi o primeiro diamante irlandês.
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