A amadora paixão pelo "fato novo"


É normal que a maioria dos torcedores haja única e exclusivamente guiado pela paixão. Na hora de pensar como seria se fosse o dirigente do clube, as mais absurdas opções são colocadas em pauta. "Eu demitia o time todo". "Treinador com quatro jogos ainda não venceu? Pra mim já deu, precisamos de motivação nova". Ou seja, imediatismo e desespero movidos pelo amor e pela excessiva vontade de mudança de panorama. 

Se as propostas dos apaixonados adeptos ficam nas conversas de bar, o diretor de futebol e demais cartolas tratam, infelizmente, de colocar algumas delas em prática. Sim, a maioria dos profissionais do ramo age como se fosse um torcedor. E, apesar do benefício que amar um clube pode trazer, agir passionalmente, na maioria dos casos, é bastante negativo para o andamento de uma equipe de futebol.

O Internacional, por exemplo, demitiu Diego Aguirre no ano passado às vésperas de um clássico. A justificativa da cúpula colorada? A busca por um "fato novo". Não se pensa em resolver problemas de grupo, analisar desempenho, projetar o futuro ou qualquer coisa do tipo. A ideia que parece existir é a daquele torcedor iludido, crente que, num passe de mágica, a motivação de um novo técnico vai fazer a equipe embalar quatro ou cinco vitórias seguidas. 
Desde Aguirre, o Internacional empilha tentativas de trazer o tal fato novo e mudar o rumo da equipe.

Argel chegou e, de fato, mudou o panorama. O elenco, antes em clima de funeral, buscou energias para fazer a segunda melhor campanha do returno, quase conquistando a vaga na Libertadores. No entanto, apesar da boa campanha, o futebol não era dos melhores, dependendo muito de Vitinho. Em 2016 parecia que as coisas caminhariam da melhor forma possível para a equipe colorada, mas o excelente início de campeonato não foi suficiente para segurar o treinador. Depois de quatro derrotas viu-se, novamente, a necessidade de mudança no comando. Dessa vez, um pouco mais embasada que da última.

Para seu lugar, mais uma vez, nada de planejamento. Falcão deixou o Sport e desembarcou em Porto Alegre para a difícil missão de recuperar a confiança do grupo. Com todo respeito ao rei de Roma, estava na cara que não daria certo e ele acabou se queimando. Para o ídolo, bastaram cinco jogos sem vitória para a demissão. Uma piada. O planejamento que cada vez mais parecia não existir, só piorou quando Celso Roth foi anunciado. 
Apesar de toda a mística e histórico de "grandes salvações", Roth deixou o Inter em posição complicadíssima.

Mais uma vez, nada de análise ou estudo de necessidade, o Inter agiu como um torcedor. E o pior, como a minoria dos torcedores. Aqueles que acreditam na mística. É como se os dirigentes colorados sentassem numa mesa de bar e ouvissem alguém dizendo "eu traria o Roth, especialista em salvar da degola". Pronto, a declaração bastou para que o negócio fosse concretizado. Uma piada de mal gosto com o torcedor que de fato entende o momento que passa o clube. 

Com Celso, o Inter teve 36% de aproveitamento e, a três rodadas do fim do Brasileirão, resolveu novamente "ganhar o grupo com um fato novo". Lisca assume a bomba e tem a dura missão de restruturar um time sem confiança e com desempenho tático baixíssimo. 
Lisca é o "fato novo" da vez. São três jogos para resolver os problemas colorados.

Percebe-se então que uma diretoria que age por paixão - para não dizer despreparo - acaba por expor a falta de um planejamento, de convicções e de capacidade para comandar um clube tão grande. Para a infelicidade do torcedor colorado, o fato novo que mais se aproxima do Beira Rio é o inédito rebaixamento. 
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