Muito se fala da finalíssima da Libertadores deste ano, entre Nacional de Medellín e Independiente del Valle. Destaca-se como é uma surpresa dois times com jogadores jovens, sendo um nunca campeão de seu país, decidindo o campeonato mais importante das Américas. Também é citado em meio as mesas redondas, a falta de times brasileiros na final, algo que já ocorre desde 2013, quando o Atlético Mineiro bateu o Olímpia. Tal fato surpreende, visto que entre 1992 e 2013, os times brasileiros se ausentaram de apenas 4 oportunidades da final, o que causou uma sensação de domínio tupiniquim na Libertadores. Tal ideia de soberania não existe mais desde o titulo do Galo.
Muitos culpam a displicência dos jogadores brasileiros, o atraso tático dos treinadores em relação aos gringos, entre outros fatores. Mas o verdadeiro motivo é bem diferente: a falta de continuidade. O imediatismo e a pressa no nosso futebol só trazem problemas e ocasionam a falta de sequência, que é algo que engloba diversos fatores que serão citados abaixo.
Falta de uso da base no time principal: Jogadores - principalmente os jovens - perdem espaço facilmente, pois bastam dois ou três jogos ruins para a torcida perder a paciência. Com isso, o técnico acaba caindo na pressão e o jovem vai pro banco, é emprestado ou vendido. Reflexo disso são nossos times, em grande maioria, com elencos "velhos". Oito dos vinte times da elite do Brasil possuem uma média de idade igual ou superior a 27 anos em seus elencos. Enquanto isso, o surpreendente Independiente del Valle, por exemplo, tem uma média de 22,6 anos de idade, segunda menor desta edição, atrás apenas do Colo Colo (22,1 anos), tendo seus principais destaques sendo jovens habilidosos que já tem chances na seleção nacional, como Cabezas, Angulo e Sornoza. O Rosário Central, que tem média de idade intermediária (25,8 anos), dava oportunidades a destaques jovens como Cervi, Montoya e Lo Celso, por exemplo.
Anos passam, times mudam muito: a constante mudança nos elencos é algo muito perceptível também. Todo ano os clubes daqui mudam boa parte do plantel. Os dirigentes falam seguidamente em "renovação" e isso impede um time de jogar por mais tempo junto, coisa que ocasionaria, fatalmente, num maior entrosamento. Nos outros países do Mercosul é muito diferente, os times apostam na preservação do elenco e isso pôde ser percebido no confronto de semifinal entre São Paulo e Nacional de Medellín, que repetiram o confronto semifinal da Sul Americana de 2014. Dos 11 jogadores que iniciaram o jogo no Morumbi, lá em 2014, apenas três permaneceram no elenco paulista, enquanto os Verdolagas mantiveram 8 jogadores, repondo suas perdas com jovens, muitas vezes vindos da base, ao invés de fazer loucuras contratando "medalhões" por um alto preço.
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| Se no São Paulo muita coisa mudou deste jogo, em 2014, para cá, no finalista da Libertadores muita gente permanece. Entrosamento. |
Mudanças no comando técnico: finalmente o principal motivo, a continuidade de trabalhos entre os treinadores. Aqui a dança das cadeiras entre os comandantes acontece com uma enorme frequência, tanto que no ano passado, 19 dos 20 times trocaram seus técnicos durante o Brasileirão. Naquela oportunidade, apenas o campeão Corinthians manteve Tite - hoje na seleção - durante todas as rodadas, dado que preocupa, e muito. Enquanto isso, equipes estrangeiras que se destacam no torneio, apostam no trabalho a longo prazo, como por exemplo o River Plate, campeão em 2015, que mantém Marcelo Gallardo desde 2014. Outros exemplos recentes/atuais são o do Independiente del Valle, que tem o uruguaio Repetto desde 2012, o Tigres, que tem Tuca Ferreti desde 2010, entre outros infinitos casos. Outra coisa a se destacar além da permanência dos técnicos é a forma que fazemos a manutenção do comando. Os clubes brasileiros geralmente procuram qualquer opção disponível no mercado, enquanto os times estrangeiros vem procurando treinadores que apresentem uma filosofia/perfil compatível ao do clube. Exemplo disso é o Nacional de Medellín, que trocou Osório por Rueda, mas manteve a forma ofensiva de jogar.
Depois de tudo isso, fica claro que os times nacionais precisam de maior continuidade nos elencos, maior trabalho de base e mais trabalhos a longo prazo com os treinadores. Precisam de uma filosofia de trabalho sustentável e de uma mudança na ideologia de nossos dirigentes. Tudo isso será muito difícil de alcançar, mas devemos torcer para que aconteça. Se anos atrás o problema era o atraso em relação aos europeus, agora pode ser o atraso em comparação aos vizinhos sul americanos. Isso não pode acontecer. Nosso futebol tem que mudar desde os clubes até a seleção nacional, que precisa se reinventar depois do fatídico 7 x 1.


