MODÃO CAIPIRA #37 - Uma grata surpresa


Antes do início do campeonato, pouca gente podia acreditar que o Esporte Clube São Bento estaria entre os melhores times da competição, estando a frente de Palmeiras e São Paulo na classificação geral. Mas, com um grande trabalho do técnico Paulo Roberto Santos, o Azulão sorocabano vem fazendo ótima campanha, e está quase garantindo sua vaga na próxima fase.

Com alguns jogadores remanescentes do Paulistão 2015, o tradicional time de Sorocaba apresenta um ótimo futebol, fazendo frente até para Palmeiras e Corinthians, já que esteve vencendo os dois, e em ambos os jogos acabou sofrendo o empate nos minutos finais.

Depois de passar por anos muito difíceis, quando chegou a ser rebaixado para a Série A3 em 2011, com uma campanha pífia, que contou com atrasos salariais e brigas internas no clube, a nova diretoria assumiu o comando do Azulão e foi reestruturando aos poucos, para devolver o São Bento ao seu lugar de merecimento, que é entre os grandes times do estado.

Na preparação para a Série A3 de 2013, após ter jogado o torneio em 2012 e não ter passado da primeira fase, o técnico Edson Vieira chegou com discurso totalmente otimista, afirmando que aquele ano seria o ano do acesso, e realmente foi. Sobrando na primeira fase, o time passou um sufoco na fase posterior, e o acesso só veio no último minuto do jogo contra o Sertãozinho, que era o último jogo da segunda fase. Perdendo por 3x2 até os 47’ do segundo tempo, Marcos Vinicius completou o cruzamento de Veloso, e fez o CIC explodir em Sorocaba. Na final, venceu o Batatais fora de casa, e com um empate por 1x1 em Sorocaba, garantiu o título, para a alegria dos torcedores são-bentistas. 
Era o início da escalada do São Bento, que se tornaria mais árdua nos anos seguintes.

Aquele time da Série A3 tinha como destaques o goleiro Henal, o lateral Veloso, o meia Tremonti e o atacante Gabriel Barcos, que foi o artilheiro do Azulão na competição. Outros jogadores importantes eram o zagueiro Carlão, o volante Willian e o atacante Lelo, além do treinador Edson Vieira, que deu um título ao Bentão depois de mais de 10 anos.
Edson Vieira comemora o acesso em 2013 (Imagem: Jornal Cruzeiro do Sul)

No ano seguinte, vários jogadores permaneceram na equipe, mas o comando mudou de mãos. Saiu Edson Vieira pra entrar Paulo Roberto Santos. E o acesso veio novamente, e mais uma vez no sufoco. Em campeonato de turno único em pontos corridos, eram 19 rodadas para decidir os 4 primeiros colocados que subiriam para a A1 do ano seguinte.

No início da competição, o Azulão fez boa campanha, e se manteve sempre entre os primeiros colocados. Na segunda metade, oscilou bastante e viu a situação se complicar. Faltando 3 jogos, a equipe sorocabana teria de ganhar os 3, sendo que dois deles seriam fora de casa. Na primeira batalha, vitória sobre o Santo André, no Bruno José Daniel, por 1x0, com gol de Markinho aos 47’ da segunda etapa. Na semana seguinte, venceu o Guaratinguetá por 2x1, em casa, e foi para Catanduva dependendo só de si para chegar à elite. Venceu por 2x1 e pôde comemorar mais um acesso. Os gols do último jogo foram marcados por Hebert e Markinho, que foi o herói daquele ano.

Na Série A2, os principais nomes da equipe eram o zagueiro João Paulo, o meia Hélton Luiz e o volante Éder, além dos remanescentes Henal (que acabou ficando no banco a maior parte da competição, graças ao grande ano do goleiro Ronaldo), Veloso e Tremonti. Méritos grandes ao técnico Paulo Roberto Santos, que começava a fazer história no banco beneditino.
Markinho comemora o gol contra o Santo André (Imagem: Emidío Marques)



Na volta para a elite, o São Bento fez boa campanha, tendo apenas 2 derrotas em 15 partidas, mas acabou não se classificando para a segunda fase, pois a grande quantidade de empates não favoreceu a equipe. Foram 21 pontos na primeira fase, campanha já ultrapassada pela equipe deste ano.

Mantendo boa parte dos jogadores que conquistaram o acesso, e também com a manutenção do treinador Paulo Roberto, o objetivo de se manter na elite foi alcançado, com o bônus de ficar na primeira metade da tabela, o que garantiu um jogo a mais em casa nesse ano de 2016. Outro ponto que a torcida beneditina gosta de lembrar, é que o tabu diante do Santos foi mantido. O time da baixada está a 30 anos sem ganhar do Azulão, e em 2015 o resultado do embate foi de 2x2, na Vila Belmiro.

Os principais reforços em comparação com a equipe do ano anterior foram os experientes Marcelo Cordeiro e Renan Teixeira (campeão mundial com o São Paulo), além do meia Éder Loko e do atacante Renan Mota. Henal estava mais um ano na meta beneditina, conquistando cada vez mais idolatria com a torcida, e jogadores como João Paulo e Éder se destacaram novamente com a camisa do Azulão.
Volante Éder é destaque desde 2014 no São Bento (Imagem: Jesus Vicente/EC São Bento)


Agora, enfim, chegamos ao ano de 2016. O principal fato que fez com que essa grande campanha esteja acontecendo, foi a manutenção de Paulo Roberto Santos à frente da equipe. O treinador acertou novamente na montagem do elenco, trazendo nomes conhecidos do futebol nacional, e outros não tão conhecidos assim, mas também bastante importantes.

No primeiro jogo, já houve uma grande confusão. Um dia antes da partida, a FPF vetou a utilização do Estádio Walter Ribeiro, por conta da condição ruim do gramado, e o jogo teve que ser transferido para Barueri. Sem a força da torcida, o Bentão acabou empatando por 1x1 com o Ituano, no jogo que ficou marcado pelo gol de Rossi, que foi o primeiro da atual edição do Paulistão.

No jogo seguinte, uma das grandes exibições da equipe sorocabana no campeonato. No Pacaembu, foi enfrentar o atual campeão da Copa do Brasil. Saiu perdendo para o Palmeiras no início da partida, mas conseguiu a virada com gols de Éder e Morais (um golaço, que se espalhou pela internet), mas foi prejudicado pela arbitragem, tendo um gol mal anulado e um contra-ataque parado pelo juiz da partida para dar uma falta no campo de defesa, e sofreu o empate nos acréscimos. Ali, o time do Esporte Clube São Bento começava a crescer no campeonato.
Morais foi o destaque do jogo contra o Palmeiras (Imagem: Jesus Vicente/EC São Bento)


Uma semana depois, o Azulão finalmente estreava em Sorocaba, diante de sua torcida. E a primeira vitória veio, com um 1x0 sobre o Novorizontino. O autor do gol foi o estreante Diego Clementino, que entrou no segundo tempo e recebeu passe de Edno, outro estreante, para marcar o gol da primeira vitória da equipe no campeonato. No jogo seguinte, mais uma vitória em Sorocaba, dessa vez com mais facilidade. 3x0 contra o São Bernardo, com direito a dois gols de pênalti do lateral Marcelo Cordeiro, e o meia Clébson fechou o placar. Naquele momento, o Bentão era o líder do seu grupo.

Na rodada seguinte, foi enfrentar a Ponte Preta no Moisés Lucarelli. Jogando fechado, conseguiu voltar de Campinas com um ponto na bagagem, após grande atuação do goleiro-ídolo Henal, que ajudou a equipe a segurar o 0x0 e a invencibilidade.

Três dias depois, mais uma grande atuação beneditina, que novamente mostrou sua força na mídia esportiva nacional. Jogando um futebol bonito, contou com o apoio da torcida e abriu o placar contra o Corinthians, com gol do rápido Rossi. Novamente, como castigo, sofreu o empate no fim do jogo, quando André acertou um belo chute, aos 43’ da segunda etapa, num lance que gerou discussão por uma suposta carga de Guilherme em cima do zagueiro João Paulo no início da jogada. Mas, independente de erros de arbitragem ou não, o resultado de empate não foi ruim para o São Bento, que continuava entre os primeiros de seu grupo, sonhando com a classificação. Nessa partida, o lateral-direito Bebeto ganhou a titularidade de seu concorrente Régis Souza, que vinha sendo usado nos 11 iniciais até então.
Paulo Roberto Santos reclama com a arbitragem após empate com o Corinthians (Imagem: Marcos Ribolli)


Para continuar a difícil sequência, o encontro com o Água Santa em Diadema, pela 7ª rodada. Após estar perdendo por 2x0 até os 34’ da segunda etapa, foi buscar um empate heroico, com gols de Diego Clementino e Marcelo Cordeiro. O atacante, ex-Guarani, ia cavando seu espaço na equipe com gols importantes, enquanto o lateral ia se consolidando como uma das principais peças do esquema montado pelo treinador Paulo Roberto. O jogo marcou também como o último de Morais entre os 11 titulares. Desde então ele vem sofrendo com contusões e apenas entra no segundo tempo em alguns jogos.

No jogo posterior, veio a primeira (e até agora, única) derrota da equipe no campeonato. O Red Bull Brasil bateu o time sorocabano por 2x0, no Moisés Lucarelli, numa atuação bastante apática de todo o time do Azulão. Roger, artilheiro da competição, abriu o placar, e Fábio Bahia fez contra o gol que fechou a conta. A dúvida parecia começar a tomar conta dos torcedores, e o jejum de gols dos atacantes, tanto Edno quanto Anderson Cavalo, começava a incomodar.

No jogo seguinte, tudo isso foi resolvido. A desconfiança desapareceu, e com gols dos dois atacantes (Cavalo fez dois, e Edno fechou a conta), o Azulão venceu o Rio Claro por 3x0 em Sorocaba. A segunda posição do grupo foi retomada, e a classificação começava a ficar desenhada. Duas coisas marcaram o jogo: Henal completou 150 jogos defendendo a meta do São Bento, o que é um número bastante considerável para um clube do interior, que muitas vezes possui calendário reduzido no segundo semestre. E o treinador Paulo Roberto Santos foi ovacionado pelos torcedores do Rio Claro que foram até Sorocaba. Mesmo com a derrota, esses torcedores gritaram o nome do comandante ao fim do jogo, que como já vimos, fez história a frente do Galo Azul.
Henal completou 150 partidas pelo Bentão (Imagem: Jesus Vicente/EC São Bento)


A força do São Bento crescia cada vez mais, e quem entrava dava conta do recado. No jogo contra o Mogi Mirim, fora de casa, mais uma vitória convincente, novamente por 3x0. Os experientes Marcelo Cordeiro, Edno e Morais foram os autores dos gols da vitória, que quebrou um tabu de 25 anos sem vencer o Sapo de Mogi.

Depois disso, dois jogos em Sorocaba para encaminhar a classificação. E duas vitórias vieram, ambas por 1x0. Contra a Ferroviária, gol do importantíssimo volante Éder, num dia que o gramado pesado atrapalhou um pouco a exibição de um bom futebol. E, nesse domingo, 27 de março, mais uma vitória pelo placar mínimo, dessa vez com o gol marcado pelo, não menos importante, zagueiro João Paulo.

A classificação está muito próxima, e o jogo contra o Santos é visualizado cada vez mais de perto pelos torcedores sorocabanos. Como dito acima, o jejum do time da Baixada já dura 30 anos, nesse período foram 9 jogos, com 2 vitórias são-bentistas e 7 empates.

O que faz acreditar que esse time pode chegar longe é a constância das atuações da equipe, que vem fazendo frente para todos os times, inclusive os grandes da capital. Com um esquema de jogo bem formado, as laterais são os pontos fortes da equipe. O apoio de Marcelo Cordeiro e Bebeto, aliado aos pontas Rossi e Diego Clementino (que conquistou a titularidade durante a competição) que constantemente trocam de lado, dão uma boa opção para o Bentão explorar as laterais adversárias.

A consistência defensiva com João Paulo e Ptty, além das grandes atuações do goleiro Henal, deixa o torcedor bastante tranquilo. A defesa é a segunda melhor do campeonato, sofrendo apenas 8 gols em 12 partidas. O volante Fábio Bahia também ajuda muito na marcação, e mostra qualidade quando precisa sair pro jogo.


O volante Éder, assim como no ano passado, é uma das principais válvulas de escape do time alviceleste. Chegando como elemento surpresa, ele desmonta a zaga adversária, e sempre faz gols importantes. O ponto alto da equipe, ao menos na minha opinião, é o camisa 10 Clébson. A visão do armador da equipe é diferenciada, e todo jogo ele consegue achar maneiras de deixar seus companheiros na cara do gol, seja com belos passes com a bola rolando, ou então em bolas paradas.

Aliado a isso, o meia Morais, que começou o campeonato como titular, mas as lesões não o deixaram ter uma continuidade, sempre vem entrando bem no segundo tempo, e dando uma cara diferente à equipe. Os dois centroavantes, Edno e Anderson Cavalo, revezam a titularidade, mas não empolgam muito o torcedor. Cada um tem dois gols no Paulistão, o que é muito pouco, visto que já estamos com 12 jogos disputados.

A intenção da diretoria são-bentista é conquistar a vaga para a Série D do Brasileiro,o que parece ser uma realidade próxima. Depois disso, pensar em fazer uma campanha ainda melhor na competição, buscando até uma semifinal. E, com toda a certeza, a diretoria tem seus méritos por ter reerguido um clube tão grande como o Esporte Clube São Bento. Méritos também ao treinador Paulo Roberto Santos, que vem fazendo um ótimo trabalho no banco da equipe sorocabana, aos jogadores que se mostram focados no objetivo de melhorar cada vez mais a imagem do clube perante a imprensa esportiva nacional, e à torcida desse clube tão tradicional, que busca voltar aos seus melhores anos, que foram nas décadas de 60, 70 e 80. Como diz o hino do clube, “força e mocidade, glória da cidade”! 
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