O batedor de carteiras



Chegando na 35ª rodada da atual edição do Campeonato Brasileiro, é de se esperar que os números estatísticos que compõe a competição passem a ter uma solidez maior. Ao contrário do que pensam algumas pessoas do meio esportivo, os dados numéricos ajudam no entendimento do jogo, a partir do momento em que se estuda as estatísticas com o contexto da partida. 

Dessas 34 rodadas jogadas, em 28 delas se fez presente um promissor homem de meio campo: Otávio, o camisa 5 do Atlético Paranaense, saiu da consagrada base sitiada no CT do Caju para impressionar não somente a torcida do rubro negro, como também os amantes do futebol. O jovem de 21 anos parece não perder o tempo de bola. Sempre com muita vontade e agilidade, o volante atleticano busca o bote e, apesar do porte físico que apresenta, não foge das divididas.

Natural de Maceió, Otávio chegou no Furacão ainda na categoria sub-15, em 2009. Sendo tri campeão paranaense nas categorias de formação e conquistando títulos pela Europa, foi ganhando destaque nas divisões de base. Entretanto, surpreendentemente, possuía um defeito que hoje não é mais problema: não saber marcar. A grande vantagem da juventude é poder corrigir as falhas, transformando-as em virtudes. O jovem meia foi recuado em prol de seu aprendizado, para hoje colher os frutos e se tornar um dos principais meias da competição.
Otávio disputou 14 das 15 partidas disputadas pelo Atlético-PR no Campeonato Paranaense de 2014, sendo um dos jogadores promovidos para a equipe principal naquele ano.


O reconhecimento do seu trabalho foi feito em 2014. O Atlético-PR disputava o Campeonato Paranaense com uma categoria conhecida como "sub-23". Atletas mais inexperientes e de menor aproveitamento disputavam o campeonato, enquanto a equipe principal fazia preparatórios na Europa. Naquele ano, o selecionado que disputaria o estadual era comandado pelo sérvio Dejan Petković, que encontrou em Otávio uma boa opção para compor o setor de meio campo. Com qualidade na retomada de bola e boa distribuição de jogo, o jovem atleta passou a somar na equipe principal, a qual era comandada pelo espanhol Miguel Ángel Portugal. Estreou, então, contra o Grêmio, na primeira rodada do Brasileirão de 2014.

Sua campanha naquele ano não foi o divisor de águas para hoje ser o homem que é. O Atlético-PR teve um conturbado início naquela temporada, passando por uma troca de técnico com um mês de campeonato, tendo sido comandada por Leandro Ávila, como interino e, posteriormente, por Doriva. Ainda assim, em 17 jogos disputados, Otávio fez 29 desarmes. O confuso momento atleticano daquele ano, que compreendeu uma precoce eliminação na Libertadores da América e uma campanha irregular no Campeonato Brasileiro, terminando a competição em 8º, botou um ponto de alerta na cabeça dos atleticanos quanto ao ano seguinte. Tal ano chegou, e a preocupante sina bateu à porta rubro negra. A campanha lamentável no Campeonato Paranaense em 2015, tendo disputado ponto a ponto a permanência na competição no torneio da morte, botou em cheque todo o elenco e comissão técnica do Atlético no início de ano. Terreno inapropriado para emergir algum talento? Não para Otávio.
Com a camisa 20, o volante jogou 17 rodadas no Campeonato Brasileiro do ano passado. Apesar de não ter demonstrado grande brilhantismo, já apresentou uma boa relação com a bola.


O principal motivo para a superação da equipe e a ascensão do jovem volante apareceu logo no começo do Brasileirão 2015. O técnico trazido para a competição pela diretoria da equipe paranaense foi Milton Mendes, até então desconhecido na elite nacional e, por essa razão, golpeado pela desconfiança da torcida. Entretanto, nem tudo que entra pela porta dos fundos são males. Mendes trouxe um planejamento diferenciado ao Atlético-PR, com uma filosofia tática que foi capaz não apenas de transformar os fracos e contestados jogadores atleticanos para uma realidade aceitável. Melhor que isso, o técnico lapidou o elenco, e Otávio aproveitou.

Após os testes promovidos pelo treinador na equipe, Otávio apareceu pela primeira vez em 2015 contra o Atlético Mineiro, na 3ª rodada do campeonato. A partida de ingresso não fora das melhores, mas a sequência mostrou-se, indubitavelmente, avassaladora. Passou a ser o titular insubstituível durante a campanha, fazendo dupla na volância com o contestado Hernani, outro jogador oriundo da base atleticana. Movimentava-se sempre como o primeiro homem a receber a bola dos defensores para distribuí-la aos companheiros, seja no meio campo, seja nos flancos.
O jovem meia fez dupla em grande parte do campeonato com Hernani (esq.). Ambos com 21 anos, os meias já estavam acostumados a jogar juntos pelas equipes de base do rubro negro.


Coincidentemente, o Furacão teve seu momento mais delicado no campeonato em uma sequência de jogos a qual contou com a ausência de Otávio, que fora convocado para a seleção olímpica, contra o Joinville, na 23ª rodada. Ficando de fora também da rodada subsequente, a equipe teve uma queda de rendimento, culminando na saída de Milton Mendes no comando do Atlético-PR, e que só foi restabelecida parcialmente nas últimas rodadas. Ainda assim, o jogador se sustentou como um pilar no time, mantendo-se como peça importante e símbolo de raça para a torcida, a qual jamais contestou seus trabalhos.

A velha expressão para o primeiro volante, o "cão de guarda", perdeu o sentido com a presença de Otávio. A defasada função de caçar os mais habilidosos caiu por terra, e o volante rubro negro se destacou por tomar as rédeas na marcação do mais vulnerável ao mais qualificado. Mostrou-se um atleta equilibrado. No primeiro Atletiba da competição, foi um dos melhores em campo no empate em 2 a 2, conseguindo criar lances de perigo, roubar bolas e quebrar a linha defensiva com dribles.

Sendo destaque como "volante moderno", Otávio escancarou sua grande e reveladora fase. Já foram incríveis 121 roubadas de bola até o presente momento. O maior ladrão de bolas do Campeonato Brasileiro com uma média de 4,3 desarmes por jogo. Possui 14 desarmes a mais que o segundo colocado no ranking, Rodrigo Dourado, do Internacional. Melhor ainda, cometeu somente 39 faltas no campeonato, uma média de 1,3 falta por jogo. Sem ser expulso sequer uma vez, o jogador foi amarelado 7 vezes. Detém ainda a primeira e segunda posição em número de bolas roubadas em uma só partida do Brasileirão com 11 desarmes, contra o Cruzeiro, e 10 contra o Corinthians.
Onze bolas roubadas em 90 minutos. Otávio foi perfeito em um dia não tão bom para o Atlético.


Toda a parte defensiva já demonstra ser boa, mas, como já exaltado antes, não é só nisso que Otávio impressiona. A parte de distribuição, em números, também agrega ao currículo. São 93% de passes certos até o momento, com 37 passes longos acertados e 35 errados. 

Com todo o brilhantismo, é possível cravar que Otávio tem uma carreira promissora pela frente. Acompanhado de um meio campo mais criativo e vertical, pode conseguir um sucesso diferenciado nos campos brasileiros, eis que se trata de um jogador com características peculiares e escassas inclusive na seleção nacional.
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