A longevidade de uma lenda






Conheci ele na televisão fazendo defesas maravilhosas, mas na verdade ele já estava aí desde o dia 28 de janeiro de 1978. Enquanto as pessoas seguiam suas vidas normalmente em Carrara, uma pequena comuna da Itália, uma lenda chamada Gianluigi Buffon estava nascendo.

Logo aos 6 anos de idade, Buffon já demonstrou seu gosto de futebol, e começou a praticar o esporte no Canaletto. Após passar por Perticata e Bonascola, Gianluigi Buffon chegou ao Parma com 13 anos de idade, após rejeitar Bologna e Milan.

No Parma, Gigi começou jogando em várias posições, especialmente no meio de campo, mas acabou se encontrando como goleiro, inspirado no seu ídolo Thomas N’Kono. Com as lesões dos demais goleiros, Buffon teve sua primeira chance na posição, e em duas semanas já era o titular. Nas categorias de base da equipe era um dos mais badalados, e já representava a seleção italiana nas respectivas categorias. Com apenas 17 anos, no dia 19 de novembro de 1995, o sonho de todos os meninos do mundo se tornou realidade para Gianluigi. Fez sua estreia diante do Milan em um empate por 0x0 (começando com clean sheet!).

Em 1996, Buffon, integrante da seleção italiana sub-21, conquista a Eurocopa da categoria. No mesmo ano, foi convocado para disputar os jogos olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos. Este ano foi importante para ele não só por começar a ganhar espaço na seleção sub-23, mas também por ter iniciado a temporada como titular do Parma, que foi vice campeão italiano. Na temporada 97/98, após defender um pênalti cobrado por Ronaldo Fenômeno, jogador da Inter de Milão na época, comemorou mostrando uma camisa do Super Homem, passando a ser apelidado dessa forma. Também começou a ter seu espaço na seleção principal da Itália e foi convocado para a Copa de 1998, na França, em que foi reserva de Pagliuca. Sob a meta do Parma, Buffon conquistou a Copa da UEFA e a Copa da Itália na temporada 98-99, e também a Supercopa Italiana em 1999.

Em 2000, já com quase 20 aparições vestindo a camisa da Azzurra, Buffon estava com a primeira grande chance de participar de um campeonato importante com a seleção principal, porém ele deixou ela escapar pelas mãos, literalmente pelas mãos, pois quebrou a mão em um amistoso contra a Noruega 8 dias antes de começar a Eurocopa de 2000, dando lugar a Francesco Toldo no gol da seleção.
Buffon começava a conviver com lesões.
Após isso, disputou sua última temporada com a camisa do Parma. Ao todo foram mais ou menos 220 aparições pelo clube. No verão de 2001, Buffon foi vendido para a Juventus pela bagatela de 45 milhões de Euros, valor mais alto já pago por um goleiro até então. E fazendo jus ao valor pago, Buffon chegou dominando a posição, e logo de cara conquistou o bicampeonato italiano (01/02 e 02/03) e também da Supercopa Italiana (2002 e 2003). Em 2002, Buffon foi convocado para a sua segunda copa do mundo, nesta para ser titular. Alguns dizem que a Itália foi uma das decepções por ser eliminada pela Coreia do Sul nas oitavas de final, mas a verdade é que este foi um dos jogos mais roubados que já vi numa Copa do Mundo, tal como Coreia do Sul x Espanha logo em seguida nas quartas. Mas estamos aqui para falar de Buffon!

Foi goleiro titular da seleção italiana também na Eurocopa de 2004, em que a Azzurra foi eliminada sem nenhuma derrota na fase de grupos. Em 2004-05 a Juve se sagrou novamente campeã italiana, mas este título foi revogado tempos depois devido ao Calciopoli. Ainda em 2005, Buffon sofreu uma lesão no ombro ao chocar-se com Kaká, na época jogador do Milan e precisou passar por cirurgia. O arqueiro ficou parado por 3 meses, quando voltou aos gramados… e se lesionou de novo, retornando em janeiro de 2006. Preocupada com a situação, a diretoria da Juventus providenciou a contratação de um goleiro, e quem veio foi o conhecido Abbiati. O ano de 2006 talvez foi o ano mais marcante para Buffon, um ano que provavelmente ele teve que tomar decisões difíceis, e alternou entre o céu e o inferno. A Juventus viria a conquistar outro bicampeonato italiano (04/05 e 05/06) e Buffon levou a seleção italiana ao tetracampeonato mundial. Com o escândalo do Calciopoli escancarado pra todo o planeta ver, algumas equipes foram punidas, e a Juventus foi a que mais teve a perder com isso, tendo os títulos de 2005 e 2006 revogados e sendo rebaixada para a Série B italiana. Um golpe duríssimo para todos os amantes do Calcio, como eu.

Inicialmente, além do rebaixamento, a Juve começaria com 30 pontos a menos na Série B, mas após recorrerem conseguiram diminuir a punição para “apenas” 9. Mesmo sendo rebaixado nos tribunais para a Série B, a Juventus conseguiu manter uma boa parte do seu elenco. Entre os que permaneceram na equipe e viraram ídolos, está o homem! Gianluigi Buffon ficou e ajudou a Juve a subir de volta para a elite do Calcio.
Ídolo em Turim, campeão do mundo.

De volta a Série A do Calcio, a Juve fez uma boa campanha em 2007-08 e conquistou um digno terceiro lugar, enquanto na Copa da Itália foi batida pela poderosa Inter de Milão. Ainda em 2008, Buffon foi convocado para disputar sua terceira eurocopa, e desta vez teve um sabor especial para ele! Cannavaro foi cortado e a braçadeira de capitão ficou pra Gigi. A expectativa era gigantesca sobre a squadra italiana, todos queriam ver a atual campeã mundial conquistar a Europa, mas a Itália acabou caindo nas quartas de final para a Espanha, que se sagrou campeã da competição.

A temporada 2008-09 marcou a volta da Juve ao cenário europeu. Mesmo caindo no grupo do Real Madrid, a Juve conseguiu se classificar na primeira posição, mas foi eliminada pelo Chelsea nas oitavas. No campeonato italiano, um vice-campeonato pra Inter, e na Copa a queda para a Lazio nas semi-finais. Essa temporada foi marcada pelo convívio de Buffon com as lesões novamente. Seria este o início do fim?

A temporada de 2009-10 começou ótima para a Juve, entretanto desandou, caindo na fase de grupos da Liga dos Campeões, e terminou ainda mais desastrosa pois não se classificaram para a Champions League, ficando apenas em 5º lugar no campeonato italiano. Buffon parecia estar firme e forte outra vez, apesar de tudo.

Aí veio a Copa do Mundo de 2010, Gigi sente um problema no nervo ciático e é substituído ainda no intervalo na estreia contra o Paraguai. Ele passou por cirurgia e perdeu a primeira metade da temporada seguinte. Quem conhece sabe que nervo ciático é um sinal da idade, e ela estava chegando para Buffon, que já tinha 32 anos de idade.

Em 2011, Antonio Conte assumiu o comando da Juventus, ele que jogou junto com o goleiro no início dos anos 2000 na própria Vecchia Signora. Não demorou muito para Gigi se tornar capitão da equipe, que passou a ser uma potência na Europa de novo, voltando a figurar entre as cabeças na Champions League e emplacando um glorioso pentacampeonato (e rumando para o hexa possivelmente).
Cena rotineira na carreira do goleiro.
Já pela seleção, Buffon voltou a ser o goleiro titular após o problema com o nervo ciático, sendo o líder da equipe na fantástica campanha da Eurocopa de 2012, em que a Azzurra foi vice-campeã. Também foi titular no vexame italiano na Copa de 2014, e na Eurocopa de 2016.

Pela Série A, o goleiro possui mais de 600 jogos, estando a menos de 40 jogos para ultrapassar a lenda do Milan Paolo Maldini como o jogador com mais partidas na história do Calcio.

Muitos falam sobre Lev Yashin, que foi um goleiro incrível e é aclamado por muitos como maior goleiro da história. Não tive a sorte de vê-lo jogar, mas tenho o prazer e felicidade de ver Gianluigi Buffon atuar, e este sim considero como o maior goleiro de todos os tempos.

Feliz aniversário, Buffon! Que você continue nos encantando com sua magia debaixo das traves pelo máximo de tempo que você conseguir continuar atuando como profissional.
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