Rumo ao topo - Roberto Linck Jr


Desde sempre relacionado com o futebol, Roberto Linck, ou simplesmente "Betu" não se contentou em jogar o esporte mais amado pelo brasileiro. Com 27 anos, o gaúcho resolveu seguir os passos de seu tataravô Aurélio de Lima Py (primeiro patrono e nove vezes presidente do Grêmio) e criou um clube de futebol em uma grande cidade americana e seus objetivos são grandes. Além de ser o dono, Betu também atua pelo Miami Dade FC e tem outros projetos bastante interessantes como o GingaScout, software para análise de jovens talentos. Batemos um papo com o revolucionário brasileiro, confira:

1. A primeira pergunta não podia ser diferente, como surgiu a ideia da criação de um clube de futebol? E por que nos Estados Unidos?

Eu cresci nos EUA, então eu acompanhei o esporte local por muitos anos e por isso, conheço bem o futebol dos Estados Unidos. A ideia do time foi depois de eu conhecer o pessoal do Fenway Group, um grupo de Boston, que comprou a Roma. Eu acompanhei todo o processo deles comprando o clube italiano e aprendi bastante com aquilo. Ali eu vi que era viável ter um clube e ter receita, e aí surgiu a ideia de fundar um time de futebol nos EUA. Escolhemos Miami por que na época não tinha um time, e eu pensei que era uma pena, pela cidade tão grande e maravilhosa. Foi aí que resolvi colocar o projeto em prática na cidade.

2. Por fazer parte de uma liga independente ainda, o Miami Dade é praticamente desconhecido aqui no Brasil, os planos são colocar o clube de vez no mapa em quantos anos? A MLS é um sonho real?

Estamos com um ano agora de futebol em Miami e esse período foi bem movimentado pra nós. Ganhamos um prêmio das Nações Unidas, fizemos um torneio internacional na Colômbia e jogamos um jogo contra o campeão brasileiro no ano passado, que foi o Cruzeiro. Além disso foram 22 eventos que a gente fez, e inclusive tivemos alguns jogadores conhecidos no Brasil. Kerlon “foquinha” jogou lá, Rodrigo Alvim, que teve passagem pelo Flamengo e Grêmio, e agora a gente tem o Emerson, que jogou 10 anos com a seleção brasileira, disputou três copas do mundo e já chegou até a ser capitão do Brasil. Então, foi bastante coisa pra um ano de clube. O Miama Dade disputa uma liga hoje que estamos tentando ajudar a crescer. Todas as ligas daqui começaram pequenas, a MLS, a NASL, começaram pequenas e foram crescendo. Por isso, nosso objetivo de momento é ajudar a crescer nossa liga. Se futuramente vierem propostas da MLS ou de outras ligas, a gente vai ter que estudar, mas por enquanto nosso objetivo é crescer o clube, continuar fazendo torneios internacionais e crescer a nossa base, nossas escolinhas, nossa academia, pra começar a desenvolver jogadores. Nosso foco é criar jogadores, que nem o Emerson está fazendo lá no Fragata (Saiba mais).
Emerson é a referência no Miami. Grande vencedor, traz também reconhecimento ao clube

3. Sabemos também que existe a expectativa de que o time de Beckham já figure a principal liga do país em 2017. Você acha que o clube do astro representar Miami ajuda ou atrapalha no processo de crescimento do Miami Dade? Chegou a tentar alguma parceria com eles?

Como você falou, o Beckham deve colocar o time dele em atividade em 2018 ou 2017, eles arrumaram o local pro estádio agora. Acredito que o time dele vai ser muito bom pra gente, por que vai aumentar o crescimento do futebol em Miami. Vai transformar a cidade num grande núcleo de futebol, então isso vai ajudar bastante. E outra coisa, o Beckham é muito amigo dos meus sócios. É muito amigo do Roberto Carlos, conhece o Emerson também, já que jogaram no Real Madrid, entre outros amigos em comum. A gente está sempre conversando com ele, e pode ser que no futuro a gente faça sim algum tipo de parceria, nunca se pode descartar. Eu já conversei bastante com o Marcelo Claure, que é quem banca o projeto do Beckham, e ele é muito bacana e tem várias ideias parecidas com a gente, então acredito que o time deles seja muito bom pra gente.
Emerson e Beckham ainda mantém contato. Uma parceria pode ser viabilizada no futuro

4. Nos acostumamos a ver jogadores de maior renome rumarem aos EUA. Se antes só víamos grandes nomes na MLS, agora isso vem se expandindo. Raul e Marcos Senna são exemplo disso, já que atuaram na NASL. Óbvio que o Miami ainda está um patamar abaixo, mas vocês tem em pauta algum nome consagrado? Ou até mesmo um brasileiro experiente, como o Léo Moura, por exemplo?Hoje a gente tem o Emerson, como eu já disse. É extremamente conhecido né, passou por Real Madrid, Juventus, é um legítimo campeão. Estamos sempre conversando com jogadores, nunca sabemos quem pode aparecer por lá, até por que nossa cidade é muito atrativa, e vez ou outra algum jogador telefona ou passa no clube pra vir fazer parte do nosso projeto.

5. Como a comunidade reagiu ao Miami Dade? Já contam com um apoio considerável? Abraçaram a causa?

Uma coisa que a gente foca bastante é na comunidade. Inclusive temos vários vídeos no site do Miami Dade FC, que em datas especiais como ações de graças e natal a tentamos fazer algo bacana pra comunidade. No ano passado alimentamos mais de 150 mendigos, foi muito bacana, todos os jogadores do time participaram, colocaram a mão na massa numa fábrica de fazer massas (vídeo). Recolhemos todas as pessoas da rua, reunimos em um local e demos comida pra todas. No natal, fomos numa fábrica de brinquedos e levamos pra um orfanato, pra presentear as crianças. Então, sempre buscamos beneficiar a comunidade de algum modo além do futebol, por que acredito que essas pessoas vão ficar com a gente se dermos algum retorno legal para eles, e é isso que estamos buscando fazer.



6. Outro interessante projeto seu é o Ginga Scout, um software que funciona como um banco de dados de futuros novos talentos. Como está se saindo o software? Algum clube já usa, vem tendo bastante reconhecimento? Aqui no Brasil praticamente não o conhecemos, e com certeza poderíamos revelar grandes valores.

O GingaScout é um projeto muito bacana, que eu adoro e que eu inclusive estou no Brasil agora para fechar algumas coisas pro software. Já tem bastante treinador de universidade e clubes profissionais pelo mundo registrados, e cresce cada vez mais. É um trabalho a longo prazo, e buscamos expandir cada vez mais. Logo mais o pessoal do Brasil vai conhecer ele, algumas novidades do GingaScout estão por vir.


7. A sua ideia de recrutamento com o aplicativo é tão interessante quanto a do Midtjylland, que contrata seus atletas através de estatísticas (Leia mais). Você conhece o clube? Sabia dessa filosofia? Acha interessante?

Eu acredito muito em tecnologia e acho que futuramente no futebol tudo vai ser feito digitalmente. Por isso, o Miami Dade FC optou por fazer as contratações só usando o GingaScout e isso eu estou tentando implantar nas Universidades dos Estados Unidos e em clubes, inclusive alguns do Brasil. Acredito que usar essa tecnologia pra buscar talentos vai ser cada vez mais tendência, e o GingaScout vai ser uma ferramenta muito importante nisso.

8. Você também é jogador, acha que essa experiência dentro de campo ajuda na hora de tomar decisões para o clube? Te proporciona uma visão diferenciada? 

Sou jogador do Miami Dade FC e eu gosto de passar toda a experiência para os mais novos. Tento ajudar da melhor maneira possível. Acredito que eu ainda colabore bastante para a equipe e por isso que eu jogo. Então, até quando a minha idade permitir, vou estar jogando. E eu olho o clube com outros olhos né, mas as decisões são feitas pelo presidente Guilherme Moretto e pelos diretores, Emerson e João Garcia. No clube mesmo eu só jogo, e claro, como dono do time e investidor, eu penso sempre em oportunidades pro Miami, mas nada dentro da gestão do time em si.
O staff do Miami Dade FC

9. Temos espalhadas pelo mundo diferentes metódos de gestão. O Barcelona por exemplo sempre foi conhecido pelo uso das categorias de base, o Real Madrid, pelas grandes contratações, e por aí vai. Você se inspira no modelo de gestão de algum clube da Europa, ou até mesmo da MLS?

A gente se espelha bastante hoje no que o Emerson já está fazendo no Fragata, no sul do Brasil. Queremos ser um clube de criar jovens e botar no mercado. Um clube fornecedor de atletas, e quem está fazendo esse trabalho é o Emerson.

10. É consenso de todos que o futebol brasileiro está atrasado. Quais ideias dos Estados Unidos você acha que fariam diferença aqui? Do mesmo jeito, o que do Brasil poderia ajudar no desenvolvimento do futebol nos EUA?

O que eu acho que seja o grande diferencial são as estruturas que os clubes e escolinhas tem, e principalmente a organização. Isso que acho que poderia vir para cá. Quanto ao que o Brasil possa oferecer pros EUA, bom, é impressionante a técnica dos atletas brasileiros, por isso, alguns conceitos poderiam ser levados aos times americanos, que se baseiam bastante no futebol inglês. Essa mistura poderia ajudar bastante, dar um pouco mais de gingado para os americanos seria muito positivo. 

Outra coisa que falta nos Estados Unidos é a paixão pelo esporte. Nós brasileiros somos apaixonados pelo futebol. Embora as pessoas estejam indo ao estádio, mas é diferente, a cultura é outra, não é aquela paixão como vemos aqui entre torcedor e clube. Acho que isso vem com o tempo, vira tradição, então, vai ser daqui uns 50 anos. 



11. Nos EUA, poucos conhecem ou acompanham nossa liga. O que falta pro Brasileirão ser reconhecido também fora do país?

Olha, engraçado que uns dias atrás eu assisti a final da MLS em Porto Alegre. E acho que falta justamente isso. Os clubes do Brasil deveriam tentar fechar contrato com as emissoras de lá, eu acho até que passa na Fox Deportes alguns jogos, mas o país devia investir mais em marketing lá fora. Os torneios também são uma boa alternativa, como é a Florida Cup e como foi com o Cruzeiro, quando veio jogar com a gente. Outra coisa poderia ser a Libertadores com os clubes americanos, com isso os clubes brasileiros iriam ter que viajar aos EUA, e com certeza isso daria muita visibilidade pros times daqui. 

12. Se fosse o Brasil o seu alvo, no que investiria e em que clube injetaria seu tempo e dinheiro? Existe algum clube que desgarre dos outro neste país no quesito estrutura na sua concepção?

Meu modo de negócio é investir no meu clube lá, por que ele é uma empresa. No Brasil é diferente. Mas caso aqui fossem clubes-empresa, eu investiria no Grêmio, por toda a história da minha família, com meu tataravô sendo primeiro patrono do clube, creio que lá do céu ele ia achar legal ver a família continuar o projeto. O que eu faria no clube era investir na categoria de base. Montar uma enorme estrutura pra tentar recolher todo os maiores talentos de base do Brasil. Ser como uma IMG (Academia de Futebol, que fica na Flórida. Leia mais clicando aqui) aqui do Brasil. 

13. Acha que o mercado esportivo tem um certo preconceito com emergentes de modo geral? Um clube ascende do nada e começa a nadar a braçadas largas com um modelo de gestão prático e efetivo não incomoda o estagnado gigante? Temos exemplos disso no mundo inteiro.

No Brasil acho que tem, mas lá nos Estados Unidos não acontece isso. Vamos dar um exemplo. O Orlando City, do Flavio Augusto da Wizeup, era um clube pequeno, ele chegou e investiu, comprou uma franquia na MLS e hoje do nada já se fala como um time grande. Nos Estados Unidos se adaptam rápido, tudo foi assim. Tem clubes que começaram em 1996, 2009, 2006 e por aí vai. Praticamente todos eram pequenos e ascenderam do nada, virando clubes grandes em 6 meses ou um ano. Como eu falei antes, é uma empresa. Se investir, cresce. Qualquer clube pode se tornar grande em pouco tempo, depende apenas do poder financeiro.

[No primeiro ano, o clube já deu importantes passos. Confira um pequeno resumo no vídeo]

14. Na sua opinião, qual a área mais importante para se investir numa equipe de futebol?

Acho que o mais importante é investir em estádio. Se o clube tem o estádio, pode fazer muitas coisas. Evento, jogos, shows, etc. Com tudo isso, se gera receita. Tendo dinheiro, seu clube sobrevive e consegue se manter. 

15. Existe muita disparidade entre a organização da MLS e das ligas que estão abaixo dela? E no público, as ligas que estão abaixo da Major League Soccer já atraem um bom público?

Sim, hoje a MLS está disparada na frente das outras ligas. Primeiro pelo tempo que já existe e segundo pelo boom que aconteceu em 2007. É a liga com maior poder aquisitivo e media de público, estando inclusive entre as 10 melhores medias de público do mundo, ultrapassando os números brasileiros. No Brasil a media é de 12 mil, na MLS já está em 19. O clube que mais coloca torcedores no Brasil é o Corinthians, com media de mais ou menos 27 mil pessoas por jogo, nos EUA o Seattle Sounders coloca em media  43 mil. Então, a MLS está disparada, mas isso não impede que daqui 10 anos as coisas mudem, nunca se sabe.  Inclusive, alguns clubes de outras ligas aqui tem medias bem parecidas com o nível da MLS, depende da estrutura. O Cosmos tem uma estrutura bacana, o Sacramento FC também. Eles atraem bons públicos, mesmo em ligas diferentes.

16. Em 94 víamos um prenúncio de um futuro estrelado para o futebol norte americano. Tinham uma boa seleção, um país investindo no esporte e atraíram os olhos do mundo com a copa do mundo. Hoje, 21 anos depois , o discurso ainda é o mesmo de 94, "um dia será a maior liga do mundo". Existe mesmo essa possibilidade na sua visão? Os estados unidos não estão com a evolução prometida anos atrás um tanto atrasada? Parece que sempre fica no quase. Quase potência.

Eu acredito que sim, os Estados Unidos vão ser uma das maiores potência do futebol. Vejo muito o crescimento do futebol lá. Antigamente por exemplo não passava futebol na televisão aberta, hoje passa. Isso foi coisa de três, quatro anos atrás, quando eles fecharam contratos com a TV. A Copa do Mundo do ano passado bateu recorde em todas as televisões. Nunca teve tanta gente assistindo a Copa lá dentro dos EUA. Então, eu vejo um absurdo lá, uma evolução muito grande. O que a MLS está conquistando no futebol no cenário mundial é enorme. Já se assiste a MLS tanto no Brasil quanto na Romênia, por exemplo. Isso é muito bom pra Liga e pro futebol da seleção, que com esse crescimento, também vai se beneficiar. Mais jogadores vão querer ficar no país e não ir pra Alemanha e outros países como andam fazendo. 
Febre durante a copa, o futebol é cada vez mais familiar aos americanos. Enfim potência?

17. Por fim, torce ou acompanha algum time no Brasil?

Eu acompanho bastante o futebol brasileiro. Claro que desde pequeno eu torço pro Grêmio e sempre acompanhei o clube, mas hoje eu costumo acompanhar amigos. Eu tenho amigo no Corinthians, Cruzeiro, Flamengo. Então eu posso dizer que acompanho e torço pelos meus amigos hoje em dia.
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O Miami Dade FC disputa a American Premier Soccer League. Uma competição que assim como o clube, busca crescimento e reconhecimento. Para quem quiser acompanhar, não deixe de visitar o site do clube (aqui) e também ficar por dentro dos projetos do Roberto (aqui), que deve servir de exemplo para muitos que tem ideias, mas não executam por receio ou medo. Assim como o futebol nos EUA, o clube de "Betu" quer ser gigante, e por que duvidar? 
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